segunda-feira, 28 de outubro de 2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Memórias de um pioneiro - XIII João Moranga

Diário da Manhã
Ismar Estulano Garcia
Historicamente é sabido que, no Brasil, existiu a denominada “República Café com Leite”, em razão da alternância na Presidência da República de políticos de São Paulo (Estado que era o maior produtor de café) e Minas Gerais (Estado grande produtor de leite). O período de 1889 a 1930 ficou conhecido, também, como República Velha, em razão de vigorar uma espécie de acordo entre as oligarquias paulistas e mineiras. No período citado predominava, em todo País, o “coronelismo” exercido por grandes latifundiários. É interessante o relato de José Crispim Borges que, com os seus 96 anos de idade, conhece muito da história de Goiás.
“O fato aqui relatado ocorreu por volta de 1930, quando Anápolis era uma pequena comunidade. Na época, quem mandava e desmandava em Goiás era o senador Antônio de Ramos Caiado, conhecido como Totó Caiado.
Em uma fazenda do município, não muito distante da cidade, morava um pequeno fazendeiro que ficou conhecido como João Moranga pelo fato de, quase todos dias, levar produção de seu sítio, entre outras coisas morangas, para serem vendida na cidade. Seu nome verdadeiro era João Luiz de Oliveira. Apesar de trabalhar na roça, ele era bem-informado politicamente. Pelas condições culturais da época poderia ser considerado um intelectual, e tinha opinião formada sobre as conversas de um segmento político, denominado Aliança Liberal, estar falando em  uma possível revolução contra o governo Washington Luiz.
Em certa data, na casa de Aquiles de Pina, então chefe político da cidade de Anápolis, reuniu os dirigentes de Goiás, entre eles Totó Caiado que, anteriormente, já havia determinado ao delegado de Polícia local que desse uma tunda em João Moranga, por ele estar conversando demais. A polícia achou por bem cumprir a ordem no dia que Totó Caiado estava visitando Anápolis. Dois soldados, escalados  para cumprir a missão, ficaram esperando a vítima em um determinado lugar da estrada. Ao se aproximar um homem montado em um cavalo, carregando produtos de fazenda, eles indagaram se ele era o João Luiz. Diante da resposta afirmativa, os soldados disseram que ali estavam para aplicar-lhe um corretivo, por ordem de Totó Caiado; que era para ele apear para apanhar e que não adiantava resistir. João Moranga sacou de um revolver e disse que o primeiro que se aproximasse dele morreria. Estabeleceu-se um diálogo tenso, dizendo os soldados que não queriam confusão, mas apenas cumprir a ordem recebida.
Diante da resistência de João Moranga os soldados desistiram de dar-lhe a surra naquele momento. João Moranga foi para a cidade, direto para a residência de Aquiles de Pina, pois tinha conhecimento da reunião política. Entrou abruptamente na casa e perguntou quem era Totó Caiado, o qual se identificou. João Moranga parece que quis dar uma aula de civismo aos presentes, discorrendo sobre os direitos do cidadão, alegando que toda pessoa tinha liberdade de ir e vir. Totó Caiado respondeu que realmente todos tinha a liberdade de ir e vir, mas a ‘borracha’ também tinha  liberdade de ser aplicada. O delegado de Polícia (capitão Sarmento), que estava presente, indagou a Totó Caiado se, em razão do atrevimento e desrespeito de João Moranga, poderia aplicar-lhe uma surra caprichada ali mesmo. Totó respondeu que, para não atrapalhar a festa, o corretivo ficaria para outro dia.
Acontece que alguns dias depois  a revolução liderada por Getúlio Vargas triunfou. Pedro Ludovico foi designado Interventor em Goiás que, por sua vez designou João Moranga para prefeito de Anápolis. A tunda não aconteceu e João Moranga foi um bom prefeito.”
(Ismar Estulano Garcia, advogado; ex-presidente da OAB-GO; professor universitário; escritor)

sábado, 12 de outubro de 2013

Piranhas no Sertão de Alagoas

Piranhas/AL

Piranhas/Al

Piranhas/Al

Isso é o Sertão Alagoano

Canio do São Francisco - Delmiro Gouveia/AL

Lago da Usina de Xingó - Divisa entre Alagoas (Delmiro e Piranhas) e Sergipe (Canidé do S. Francisco)

Breve História da Corrupção no Brasil

Os primeiros registros de práticas de ilegalidade no Brasil, que temos registro, datam do século XVI no período da colonização portuguesa. O caso mais freqüente era de funcionários públicos, encarregados de fiscalizar o contrabando e outras transgressões contra a coroa portuguesa e ao invés de cumprirem suas funções, acabavam praticando o comércio ilegal de produtos brasileiros como pau-brasil, especiarias, tabaco, ouro e diamante. Cabe ressaltar que tais produtos somente poderiam ser comercializados com autorização especial do rei, mas acabavam nas mãos dos contrabandistas. Portugal por sua vez se furtava em resolver os assuntos ligados ao contrabando e a propina, pois estava mais interessado em manter os rendimentos significativos da camada aristocrática do que alimentar um sistema de empreendimentos produtivos através do controle dessas práticas.
Um segundo momento refere-se a extensa utilização da mão-de-obra escrava, na agricultura brasileira, na produção do açúcar. De 1580 até 1850 a escravidão foi considerada necessária e, mesmo com a proibição do tráfico, o governo brasileiro mantinha-se tolerante e conivente com os traficantes que burlavam a lei. Políticos, como o Marquês de Olinda e o então Ministro da Justiça Paulino José de Souza, estimulavam o tráfico ao comprarem escravos recém-chegados da África, usando-os em suas propriedades. Apesar das denúncias de autoridades internacionais ao governo brasileiro, de 1850 até a abolição da escravatura em 1888, pouco foi feito para coibir o tráfico. Isso advinha em parte pelos lucros, do suborno e da propina, que o tráfico negreiro gerava a todos os participantes, de tal forma que era preferível ao governo brasileiro ausentar-se de um controle eficaz. Uma fiscalização mais rigorosa foi gradualmente adotada com o compromisso de reconhecimento da independência do Brasil. Um dos países interessados em acabar com o tráfico escravo era a Inglaterra, movida pela preocupação com a concorrência brasileira às suas colônias açucareiras nas Antilhas.
Com a proclamação da independência em 1822 e a instauração do Brasil República, outras formas de corrupção, como a eleitoral e a de concessão de obras públicas, surgem no cenário nacional. A última estava ligada à obtenção de contratos junto ao governo para execução de obras públicas ou de concessões. O Visconde de Mauá, por exemplo, recebeu licença para a exploração de cabo submarino e a transferiu a uma companhia inglesa da qual se tornou diretor. Prática semelhante foi realizada por outro empresário brasileiro na concessão para a iluminação a gás da cidade do Rio de Janeiro, também transferida para uma companhia inglesa em troca de 120 mil libras. O fim do tráfico negreiro deslocou, na República, o interesse dos grupos oligárquicos para projetos de grande porte que permitiriam manter a estrutura de ganho fácil.
A corrupção eleitoral é um capítulo singular na história brasileira. Deve-se considerar que a participação na política representa uma forma de enriquecimento fácil e rápido, muitas vezes de não realização dos compromissos feitos durante as campanhas eleitorais, de influência e sujeição aos grupos econômicos dominantes no país (salvo raras exceções). No Brasil Império, 1822-1889, o alistamento de eleitores era feito a partir de critérios diversificados, pois somente quem possuísse uma determinada renda mínima poderia participar do processo. A aceitação dos futuros eleitores dava-se a partir de uma listagem elaborada e examinada por uma comissão que também julgava os casos declarados suspeitos. Enfim, havia liberdade para se considerar eleitor quem fosse de interesse da própria comissão. A partir disso ocorria o processo eleitoral, sendo que os agentes eleitorais deveriam apenas verificar a identidade dos cidadãos que constava na lista previamente formulada e aceita pela comissão.
Com a República, proclamada em 1889, o voto de “cabresto” foi a marca registrada no período. O proprietário de latifúndio apelidado de “coronel” impunha coercitivamente o voto desejado aos seus empregados, agregados e dependentes. Outra forma constante de eleger o candidato era o voto comprado, ou seja, uma transação comercial onde o eleitor “vendia” o voto ao empregador. A forma mais pitoresca relatada no período foi o voto pelo par de sapatos. No dia da eleição o votante ganhava um pé do sapato e somente após a apuração das urnas o coronel entregava o outro pé. Caso o candidato não ganhasse o eleitor ficaria sem o produto completo. Deve-se considerar que a maior parte das cidades não possuía número de empregos suficiente que pudessem atender a oferta de trabalhadores, portanto a sobrevivência econômica do eleitor/empregado estava atrelada a sujeição das vontades do coronel.
Outro registro peculiar desse período é o “sistema de degolas” orquestrado por governadores que manipulavam as eleições para deputado federal a fim de garantir o apoio ao presidente, no caso Campos Sales (presidente do Brasil de 1898 a 1902). Os deputados eleitos contra a vontade do governo eram simplesmente excluídos das listas ou “degolados” pelas comissões responsáveis pelo reconhecimento das atas de apuração eleitoral. Todos os governos, até 1930, praticavam degolas.
Uma outra prática eleitoral inusitada ocorreu em 1929, durante as disputas eleitorais à presidência entre os candidatos Júlio Prestes (representante das oligarquias cafeicultoras paulistas) e Getúlio Vargas (agregava os grupos insatisfeitos com o domínio das oligarquias tradicionais). O primeiro venceu obtendo 1 milhão e 100 mil votos e o segundo 737 mil. Entretanto os interesses do grupo que apoiava Getúlio Vargas, acrescido da crise da Bolsa de Nova York, que levou à falência vários fazendeiros, resultou numa reviravolta do pleito eleitoral. Sob acusações de fraude eleitoral, por parte da aliança liberal que apoiava o candidato derrotado, e da mobilização popular (Revolução de 30), Getúlio Vargas tomou posse como presidente do país em 1930. Talvez essa tenha sido uma das mais expressivas violações dos princípios democráticos no país onde a fraude eleitoral serviu para a tomada de poder.
Durante as campanhas eleitorais de 1950, um caso tornou-se famoso e até hoje faz parte do anedotário da política nacional: a “caixinha do Adhemar”. Adhemar de Barros, político paulista, era conhecido como “um fazedor de obras”, seu lema era “Rouba, mas faz!”. A caixinha era uma forma de arrecadação de dinheiro e de troca de favores. A transação era feita entre os bicheiros, fornecedores, empresários e empreiteiros que desejavam algum benefício do político. Essa prática permitiu tanto o enriquecimento pessoal, para se ter uma idéia, em casa, Adhemar de Barros costumava guardar para gastos pessoais 2,4 milhões de dólares, quanto uma nova forma de angariar recursos para as suas campanhas políticas.
O período militar, iniciado com o golpe em 1964, teve no caso Capemi e Coroa- Brastel uma amostra do que ocultamente ocorria nas empresas estatais. Durante a década de 80 havia um grupo privado chamado Capemi (Caixa de Pecúlios, Pensões e Montepios), fundado e dirigido por militares, que era responsável pela previdência privada. O grupo era sem fins lucrativos e tinha como missão, gerar recursos para manutenção do Programa de Ação Social, que englobava a previdência e a assistência entre os participantes de seus planos de benefícios e a filantropia no amparo à infância e à velhice desvalida. Este grupo, presidido pelo general Ademar Aragão, resolveu diversificar as operações para ampliar o suporte financeiro da empresa. Uma das inovações foi a participação em um consórcio de empresas na concorrência para o desmatamento da área submersa da usina hidroelétrica de Tucuruí (empresa estatal). Vencida a licitação pública em 1980 deveria-se, ao longo de 3 anos, concluir a obra de retirada e de comercialização da madeira. O contrato não foi cumprido e o dinheiro dos pensionistas da Capemi dizia-se que fora desviado para a caixinha do ministro-chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), órgão responsável pela segurança nacional, general Otávio Medeiros que desejava candidatar-se à presidência do país. A resultante foi a falência do grupo Capemi, que necessitava de 100 milhões de dólares para saldar suas dívidas, e o prejuízo aos pensionistas que mensalmente eram descontados na folha de pagamento para a sua, futura e longínqua, aposentadoria. Além do comprometimento de altos escalões do governo militar o caso revelou: a estreita parceria entre os grupos privados interessados em desfrutar da administração pública, o tráfico de influência, e a ausência de ordenamento jurídico.
Em 1980 o proprietário da Coroa-Brastel, Assis Paim, foi induzido pelos ministros da economia Delfim Netto, da fazenda Ernane Galvêas e pelo presidente do Banco Central, Carlos Langoni, a conceder à Corretora de Valores Laureano um empréstimo de 180 milhões de cruzeiros. Cabe ressaltar que a Coroa-Brastel era um dos maiores conglomerados privados do país, com atuações na área financeira e comercial, e que o proprietário da Corretora de Valores Laureano era amigo pessoal do filho do chefe do SNI Golbery do Couto e Silva.
Interessado em agradar o governo militar, Paim concedeu o empréstimo, mas após um ano o pagamento não havia sido realizado. Estando a dívida acumulada em 300 milhões de cruzeiros e com o envolvimento de ministros e do presidente do Banco Central, a solução encontrada foi a compra, por Paim, da Corretora de Valores Laureano com o apoio do governo. Obviamente a corretora não conseguiu saldar suas dívidas, apesar da ajuda de um banco estatal, e muito menos resguardar o prestígio dos envolvidos.
A redemocratização brasileira na década de 80 teve seu espaço garantido com o fim do governo militar (1964-1985). Em 1985 o retorno dos civis à presidência foi possível com a campanha pelas Diretas-Já, que em 1984 mobilizou milhares de cidadãos em todas as capitais brasileiras pelo direito ao voto para presidente. Neste novo ciclo político o Impeachment do presidente Collor constitui um marco divisor nos escândalos de corrupção.
Durante as eleições para presidente em 1989 foi elaborado um esquema para captação de recursos à eleição de Fernando Collor. Posteriormente, foi revelado que os gastos foram financiados pelos usineiros de Alagoas em troca de decretos governamentais que os beneficiariam. Em abril de 1989, após aparecer seguidamente em três programas eleitorais, Collor já era um nome nacional. Depois que Collor começou a subir nas pesquisas, foi estruturado um grande esquema de captação de dinheiro com base em chantagens e compromissos que lotearam previamente a administração federal e seus recursos. Esse esquema ficou conhecido como “Esquema PC”, sigla baseada no nome do tesoureiro da campanha, Paulo César Farias, e resultou no impeachment do presidente eleito. Segundo cálculos da Polícia Federal estima-se que este esquema movimentou de 600 milhões a 1 bilhão de dólares, no período de 1989 (campanha presidencial) a 1992 (impeachment).
Nossa breve história da corrupção pode induzir à compreensão que as práticas ilícitas reaparecem como em um ciclo, dando-nos a impressão que o problema é cultural quando na verdade é a falta de controle, de prestação de contas, de punição e de cumprimento das leis. É isso que nos têm reconduzido a erros semelhantes. A tolerância a pequenas violações que vão desde a taxa de urgência paga a funcionários públicos para conseguir agilidade na tramitação dos processos dentro de órgão público, até aquele motorista que paga a um funcionário de uma companhia de trânsito para não ser multado, não podem e não devem mais ser toleradas. Precisamos decidir se desejamos um país que compartilhe de uma regra comum a todos os cidadãos ou se essa se aplicará apenas a alguns. Nosso dilema em relação ao que desejamos no controle da corrupção é esquizofrênico e espero que não demoremos muito no divã do analista para decidirmos.

Profa. Dra. Rita Biason
Departamento de Relações Internacionais
UNESP - Campus Franca

Corrupção aumentou no Brasil, diz pesquisa da Transparência Internacional

Numa escala de 1 a 5, onde cinco é o maior grau de corrupção, as legendas partidárias no Brasil.
Numa escala de 1 a 5, onde cinco é o maior grau de corrupção, as legendas partidárias no Brasil.
http://orenburg.spravedlivo.ru

Elcio Ramalho
Maior pesquisa já realizada pela ong Transparência Internacional revela que a corrupção aumentou nos últimos dois anos no mundo. No caso do Brasil, os políticos e a polícia são os mais afetados pela corrupção. Três países europeus - Dinamarca, Finlândia e Suíça - são apontados como os menos corruptos.

A Transparência Internacional entrevistou 114 mil pessoas em 107 países sobre corrupção e instituições consideradas mais afetadas por essa prática.
De acordo com a pesquisa publicada nesta terça-feira, os partidos políticos aparecem como os mais afetados pela corrupção com uma nota de 3,8 de uma escala que vai de 1 ("não corrompível") até 5 ("extremamente corrompível").
Apenas 23% das pessoas interrogadas pela pesquisa acreditam que os esforços de seus governos para combater a corrupção são eficazes, enquanto em 2008 o índice era de 32%.
"Os líderes políticos ainda têm muito o que fazer para conquistar a confiança" da opinião pública, escreveu a Transparência Internacional ao analisar os resultados do relatório.
A segunda instituição mais afetada pela corrupção a nível mundial é a polícia, diz a Ong. A imprensa aparece em 9° lugar na opinião dos entrevistados.
Brasil
Segundo a pesquisa, 35% dos brasileiros acreditam que o nível de corrupção no país continua igual nos últimos dois anos e 47% consideram que aumentou.
Em relação à corrupção no setor público, 70% da população acredita que é um problema gravíssimo. A pesquisa da Transparência Internacional revela ainda que 56% dos brasileiros acham que a ação do governo no combate à corrupção é ineficaz.
Outros dados importantes revelados pelo estudo: os partidos políticos são de longe os mais afetados pela corrução no Brasil segundo 81% dos entrevistados. Os deputados e senadores aparecem em segundo lugar entre os mais envolvidos em corrupção com 72%.
Ainda de acordo com a pesquisa, 70% dos brasileiros acreditam que há corrupção na polícia, 55% nos serviços médicos e hospitais e 50% consideram que a justiça também não escapa da corrupção. Por outro lado, 81% dos brasileiros entrevistados pela pesquisa disseram acreditar que pessoas comuns podem ajudar a combater a corrupção.
Segundo a pesquisa da Transparência Internacional, os países mais corruptos são Libéria e Mongólia. Já os países com menos problemas de corrupção de acordo com seus habitantes são Dinamarca, Finlândia e Suíça.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Amantes chinesas se vingam de ex-parceiros acusados de corrupção

Atualizado em  10 de outubro, 2013 - 14:51 (Brasília) 17:51 GMT

Ji Yingnan e Fan Yue
Ji Yingnan divulgou na internet foto de seu amante, o funcionário do governo Fan Yue
Amantes de importantes autoridades chinesas se tornaram improváveis armas contra a corrupção no país, delatando de casos de corrupção envolvendo poderosos.
Seus recentes relatos têm oferecido uma rara oportunidade de se conhecer o extravagante estilo de vida da elite do Partido Comunista, que tem enfurecido a opinião pública chinesa.
O caso mais emblemático é o de Ji Yingnan, uma apresentadora de TV de 26 anos que causou constrangimentos a seu ex-amante ante os milhões de internautas chineses. E identificou esse ex-amante como sendo Fan Yue, vice-diretor da Administração de Arquivos do Estado.
Recentemente, Ji postou na internet vídeos e fotos dela com seu amante. Algumas imagens mostravam o casal indo às compras, divertindo-se na piscina ou em uma festa, em que o funcionário público aparece pedindo a amante em casamento.
Ji diz ter decidido expor seu amante ao descobrir que ele era casado e pai de um adolescente.
"Não tinha ideia de que ele era um mentiroso", disse Ji ao jornal chinês Global Times. "Ele sempre prometeu que se casaria comigo. Sempre achei que ele seria meu noivo ou mesmo meu marido."

Dinheiro e luxo

Mas o que chocou o público foram as impressionantes somas de dinheiro envolvidas no episódio. Segundo Ji, seu ex-parceiro lhe presenteava com mais de US$ 1 mil por dia em dinheiro vivo, além de um carro de luxo e promessas de um apartamento.
Ela disse ao Global Times que denunciou Fan às autoridades, por acreditar que ele estaria envolvido em atos corruptos. Mas disse que nunca recebeu uma resposta oficial - e por isso decidiu levar sua história à internet.
Os detalhes desse aparentemente glamouroso estilo de vida despertam uma questão óbvia: como o amante de Ji poderia pagar tudo isso com seu modesto salário de funcionário público?
Segundo a agência noticiosa estatal Xinhua, Fan foi demitido de seu emprego em junho e está sendo investigado por supostas acusações de corrupção. A BBC não conseguiu entrar em contato com Fan.

Domínio público

Um dos principais sites que publicou as revelações é chefiado por Zhu Ruifeng, um blogueiro anticorrupção alçado à fama no ano passado após divulgar um bombástico vídeo de teor sexual envolvendo um funcionário do governo, Lei Zhengfu. A investigação posterior resultou na prisão de Lei.
Com o crescente poder da internet, detalhes que antes teriam permanecido no âmbito privado têm, agora, vazado ao público.
Escândalos sexuais, obviamente, acontecem em qualquer país. Mas a diferença na China, diz Zhu, é que autoridades estatais estão usando dinheiro público para bancar suas vidas amorosas.
"Na China, nada é claro", diz ele. "O público não sabe o que as autoridades estão fazendo. Mas as amantes vivem com essas autoridades, gastam seu dinheiro, sabem tudo o que está acontecendo. Quando uma amante fala, a verdade vem à tona."
Liu Tienan, um poderoso funcionário do setor energético, foi demitido de seu cargo em maio depois que sua ex-amante denunciou a um jornalista que ele teria ajudado a fraudar bancos em mais de US$ 200 milhões.
Amantes se tornaram um poderoso simbolo de corrupção na China. Segundo um relatório estatal de 2007, surpreendentes 90% das autoridades-sêniores do país derrubadas em escândalos de corrupção haviam tido amantes - em muitos casos, mais de uma.
O ex-ministro de Ferrovias, Liu Zhijun, detido por corrupção neste ano, tinha, segundo relatos, 18 amantes.

'Complexo de imperador'

Casos extraconjugais não são novidade na China. Imperadores eram conhecidos por terem concubinas. Mas a principal sexóloga do país, Li Yinghe, acredita que muitos homens atuais acreditam ainda estar vivendo na época do Império.
"Acho que muitos deles têm complexo de imperador", diz ela. "Ser um imperador significa poder possuir muitas mulheres. É algo que lhes dá orgulho. Eles veem as mulheres como troféus de seu sucesso.
Em meio aos escândalos, o Partido Comunista tenta agora evitar que os casos privados cheguem a conhecimento público.
Em maio, o jornal oficial do partido publicou um editorial dizendo que o país não pode contar com amantes para expor a corrupção no poder público.
"Algumas (amantes) diretamente pediram subornos ou tentaram obter privilégios ilegais", disse o jornal. "Jogar as esperanças (de combater a corrupção) sobre elas é como (usar) o mal para atacar o mal."
Nas últimas semanas, autoridades também introduziram medidas duras para controlar a internet - onde vieram à tona muitas das revelações. Está claro que o partido quer jogar um véu sobre seus segredos mais íntimos.