Por: Caciji Paulo (Extraído do Jus Brasil)
O Estado é o responsável pela opressão do cidadão e de forma
ditatorial estabelece uma série de determinações ditas "civilizadas"
para impor a vontade de uma minoria sobre uma maioria.
Não é a forma de governo que é opressiva. É a existência de um governo que é opressivo.
Tanto
nas ditaduras, democracias, teocracias, monarquias ou oligarquias, o
cidadão comum não participa das decisões de como quer viver. Uns poucos
eleitos determinam que um determinado estilo de vida é evoluído e
impingem esta norma aos demais.
A diferença entre as teorias
capitalista e socialista não libertam o cidadão do jogo de um Estado
todo poderoso determinando o que é certo e o que é errado.
O
dilema materialismo/religiosidade como forma de expressão do Estado ao
invés de libertarem a consciência do cidadão, o escraviza na tirania
daqueles que detém ou querem chegar ao poder. Tanto os Estados laicos
como os teocráticos são idênticos na dominação do cidadão, só diferem na
retórica de apresentação ideológica, - um oprime em nome de uma
divindade e outro com a bandeira da democracia.
O que
determina que um Estado seja ditatorial ou democrático é a forma com que
ele oprime a Nação. O primeiro usa até a força física para inibir o que
possa extinguir sua força e o segundo usa a doutrina democrática para
a mesma finalidade. E, para justificar o uso de uma dessas armas, todas
as formas de governo são coniventes em fazer crer que o cidadão aprende
pelo amor ou pela dor e alternam estes instrumentos na condução dos
desígnios do Estado.
A opressão pela imposição da força,
de certa forma, é mais autêntica; pois é mais visível, menos maquiada e
não consegue dominar o foro íntimo do cidadão. A doutrina democrática é
maliciosa, invade a inteligência de cada indivíduo e o manipula para
mantê-lo em um torpor intelectual que impede uma visão realista daquilo
que ele almeja.
O primeiro passo, para a dominação da doutrina
democrática, é criar denominações que catalisem reações comportamentais
que influenciem no arbítrio do individuo. É o conto da roupa nova do
rei, só os puros e inteligentes conseguem enxergá-la; os impuros e
estúpidos não têm esta capacidade. Assim, um legalista, portanto
um cidadão de bem não contesta a validade de uma lei, que, afinal, foi
votada pelos seus legítimos representantes. Quem não respeita o soberano
império da lei é um marginal, um detentor de alguma sociopatia, e
precisa de algum tipo de tratamento para se adequar aos desígnios do
Estado. É certo marginalizar, punir ou declarar doente e submeter a
alguma terapia quem acha uma lei injusta?
O que é ser puro,
inteligente, legalista, cidadão de bem e legítimo representante? Ou, o
que é ser impuro, estúpido, marginal ou sociopata? Porque o império da
lei é soberano? Estas palavras não são usadas de forma irrefutáveis, são
contextualizadas dentro de uma retórica usada para aprisionar o
indivíduo em um comportamento imposto pelo Estado.
A democracia é
um fundamento que afronta a liberdade humana, é uma figura retórica sem
um significado real, um substantivo abstrato. Se fossemos conceituar o
significado contextual desta palavra chegaríamos à conceituação de ditadura da maioria.
Por exemplo: em uma democracia teórica, se houvesse uma comunidade de
100 pessoas para decidir a construção ou não de uma ponte para
atravessar um rio e, 51 nadadores decidissem que não em detrimento a 49
que não soubessem nadar, a ponte não seria construída. Isto é
liberdade? Mas, na realidade a doutrina democrática não é usada como
uma justificativa legal para a usurpação do direito e do dever do
cidadão de participar dos destinos da Nação? Sendo assim, democracia e
usurpação não acabam tendo o mesmo significado?
Na democracia, o
cidadão é condicionado para optar e não para participar. Em uma lista
de nomes, ele opta quem vai governar os destinos da Nação, mas, não
participa. Transfere sua cidadania para um desconhecido que conquistou
sua preferência por meio de um discurso retórico cheio de promessas que
dificilmente serão cumpridas.
A soma destes desconhecidos,
que recebem de cada cidadão um mandato para representá-lo, compõe o que
chamamos de Estado e decidem o que é melhor para a Nação (ou para eles
mesmos) sem uma participação expressa dos eleitores, pois estes se
pronunciaram uma só vez, quando votaram, e, não existe nenhuma garantia
de que os eleitos cumprirão com os anseios de quem lhes entregou o
mandato.
A garantia que o cidadão pode punir os desmandos de seus
representantes pelo voto é uma mentira mal-intencionada. O tempo que se
leva para extirpar o mau político não consegue evitar os desastres que
ele possa causar.
A dicotomia entre o Estado e a Nação é
inevitável, pois os detentores dos mandatos, se agirem dentro do estrito
cumprimento do que acreditam ser seu dever, tentam interpretar os
anseios do povo. Mas esta interpretação é deturpada pelas crenças e
vivências individuais de cada um deles, e não refletem necessariamente
aquilo que os seus eleitores pensam. Agora, quando estes agentes usam o
mandato para benefícios pessoais, já não existe somente uma separação e
sim a criação de duas entidades distintas e antagônicas. - O Estado de
um lado e a Nação de outro lado-.
Nas civilizações antigas,
quando uns poucos tinham tempo para exercer atividades intelectuais e a
maioria absoluta tinha como prioridade a sobrevivência, era necessário
que a minoria intelectualizada dirigisse a maioria. O Estado era o
cérebro e a Nação o corpo. Bastava que os governantes agissem no
interesse do povo, e a lucidez de poucos beneficiaria os anseios da
maioria.
Na atualidade, a maioria das pessoas é alfabetizada, as
mulheres não são mais propriedades dos pais ou dos maridos, são seres
independentes, intelectualizados e com existências e perspectivas
vivenciais individuais, um pré adolescente tem a oportunidade de acesso a
muito mais informações de que todos os pensadores gregos tiveram em
toda a vida, os anseios do povo não se restringem em estar alimentado e
ter um teto e vestes para se abrigar das intempéries. Apesar de não ter
uma clareza na consciência, cada indivíduo quer exercer de maneira
efetiva a sua liberdade, e com isso, participar plenamente dos destinos
da humanidade.
O obstáculo para a plenitude do indivíduo é a
pregação nociva de que o Estado é o representante do cidadão. Na
verdade, o Estado é a garantia de que uma minoria, privilegiada por uma
doutrina ultrapassada e demagógica, determine a maioria como agir para
ser um cidadão probo, inteligente e quantos tantos outros adjetivos que
possam ser necessários para comprar suas consciências.
O cidadão é o legitimo representante da Nação
Para
formar um cidadão pleno não é necessária uma doutrina retórica que
constranja o indivíduo a agir conforme o que alguns acham correto. É
preciso dividir a responsabilidade de crescer como Nação e garantir que
todos tenham o direito e dever de construir e usufruir daquilo que for
construído. E a única forma de ser uma Nação é agindo em prol do bem comum.
Quando
cada indivíduo se conscientizar que seus atos podem beneficiar ou
prejudicar o bem estar de todos, e que, por isso, é responsável pela sua
comunidade, estarão criados os alicerces de uma Nação na acepção mais
nobre desta palavra.
Os cidadãos organizarão um sistema em
que cada grupo de, digamos, mil indivíduos, que convivam por proximidade
geográfica (ex: bairro), escolherão entre eles, doze porta vozes.
Estes, por sua vez, se reunirão em grupos de, talvez, cem e escolherão
doze representantes que participarão de um grupo determinado de pessoas
escolhidas da mesma maneira. E sucessivamente, como se fosse uma
pirâmide, até chegar ao topo, onde teria doze escolhidos para o conselho de administração, e não um governo. E estes serão os responsáveis pela administração (dos anseios do povo), do patrimônio e do planejamento da Nação.
Os
representantes, de qualquer escalão, poderão, a qualquer momento, ser
substituídos, de acordo com a vontade da maioria dos seus representados,
pois o poder pertence ao povo e pelo povo é exercido. Ou seja, a vontade popular é soberana o tempo todo e não a cada eleição.
A Garantia dos direitos e deveres
Não
está na hora de detectarmos quais indivíduos são úteis, quais
são inúteis e quais são nocivos para a construção de uma Nação justa? Os
úteis não seriam os verdadeiros Cidadãos e, por isso, teriam a plenitude dos direitos preservados? Os inúteis não deveriam ser ajudados a se tornarem úteis e, enquanto não o fossem terem somente os direitos básicos assegurados? E os nocivos, não teriam que perder todos os direitos e serem banidos do convívio social?
As
regras de convivência devem assegurar os direitos e os deveres
individuais para que todos tenham oportunidade do pleno exercício da
cidadania. O mérito por atos que melhorem a qualidade de vida dos
concidadãos ou o crescimento da Nação devem ser reconhecidos e
revertidos em algum tipo de benefício. Os atos que prejudicam a
sociedade ou, um determinado indivíduo injustamente, serão coibidos.
A
lei não pode constranger a liberdade do cidadão, deve garantir os
direitos básicos da coletividade e dos indivíduos de forma inequívoca. A
ação penal não é uma vingança da sociedade contra quem violou seus
direitos (criminosos), mas, tem que assegurar à sociedade que, os
violadores de suas regras não vão reincidir nesta prática. Os limites
para garantir que um transgressor não voltará a infringir as normas da
Nação devem ser proporcionais ao delito.
É óbvio que manutenção
dos direitos dos infratores não pode competir com o direito à saúde,
educação e bem estar das crianças e cidadãos. Se o custo financeiro para
sustentar a “dignidade” do transgressor for maior que o benefício de um
cidadão ao acesso a saúde, ou de uma criança a preparar-se para a plena
cidadania por meio da educação, é porque existe um erro nas
prioridades. É um absurdo que quem participe ou represente o futuro da
Nação morra por falta de médico, tratamento ou remédio e uma pessoa
nociva a convivência social tenha esses direitos assegurados. Afinal,
quem abdicou de sua dignidade foi quem, desdenhando do direito alheio,
transgrediu as normas que asseguram o bem estar do seu próximo.
Desservir a educação ou a saúde para manter os delinqüentes com ditos “direitos humanos” não deveria ser revisto?
É
evidente que motivos psicológicos, psiquiátricos ou outros que levaram o
indivíduo a transgredir devem ser estudados. Mas com o objetivo de
buscar mecanismos que inibam situações que produzam estas motivações e,
assim, evitar que outros indivíduos transgridam pelos mesmos motivos.
Mas, não é óbvio que a tolerância baseada nestes aspectos realimenta
estas motivações e produzem novos transgressores?
A quantificação de como
é prejudicial uma determinada infração deve ser a única medida para a
ação repressora da Nação. O cargo, profissão, idade ou classe social
pode explicar para o acadêmico as motivações do infrator, mas diminuem a
nocividade do ato? Quem é assassinado por um adolescente fica ”menos
morto” que quem for assassinado por um adulto?
O infrator não
tem que ser responsabilizado criminalmente e civilmente pelo dano
causado? Quem mata ou incapacita um arrimo de família, além de cumprir a
sua pena pelo crime, não deveria de assegurar que a família prejudicada
mantivesse o padrão de vida e as perspectivas que teria se a vítima
estivesse integra? Ou o ladrão, o destruidor de patrimônio alheio, além
da pena, não deveria de indenizar integralmente as vítimas inclusive
pelos prejuízos indiretos (lucro cessante, perda de oportunidade,
inadimplência etc.)?
Colocar na cadeia um ladrão ou um
estelionatário e não forçá-lo a restituir o prejuízo a vitima não pode
parecer, para alguns, um bom investimento a longo (às vezes não tão
longo) prazo?
Para cumprir com as responsabilidades cíveis o
transgressor não deveria ter seu patrimônio seqüestrado ou, na
impossibilidade disso, trabalhar e ter o fruto do seu trabalho revertido
aos prejudicados até o limite do prejuízo, independente do tempo da
condenação criminal?
O servidor público que desvia verbas para
finalidades diversas, não pode, indiretamente, estar condenando à
morte um paciente que não receber o remédio ou o tratamento adequado por
falta de verbas? E se sim, ele não deveria ser réu de homicídio? O
ilícito e o desonesto não deveriam ser sinônimos?
A lei deve
garantir os direitos individuais, proteger a Nação e regular as relações
entre os cidadãos. Não se podem conceber leis que beneficiem pessoas ou
grupos em prejuízo dos diretos dos outros. O direito é lógico e
pontual. O primeiro direito individual é a vida. A vida de dois é mais
importante que a vida de um. Será que podemos permitir que o direito de
manifestação de muitos tire o direito à vida de um ou que o direito a
recreação de muitos interfira no de saúde de poucos? Ora, vida é vida,
saúde é saúde e recreação é recreação. A relação de coisas iguais é
pontual, a relação de coisas diferentes tem que ser hierárquica. O que
vale mais: a vida, a saúde, o direito de ir e vir? Isto é a sociedade
que deve decidir. Na história houve sociedades em que a honra era mais
importante que a vida. Um pensador afirmou que daria a vida pelo direito
de qualquer pessoa declarar o que quisesse, mesmo se ele não
concordasse com o que foi declarado. Os caminhos da Nação devem ser
decididos pelos cidadãos.
Interpretar as leis de forma retórica
para obter benefícios ilegítimos em detrimento de diretos alheios não é
uma violência contra os prejudicados e, conseqüentemente, contra a
Nação?
O investimento que a Nação possa fazer no desenvolvimento
de um individuo não teria que objetivar um retorno para a coletividade? O
povo pagar por meio dos impostos a formação de um médico, cujo
atendimento ser-lhe a negado não é antiético? Não seria justo que todos
que se formassem em uma profissão liberal, à custa da Nação,
trabalhassem por um período (quiçá quatro anos) como funcionário
público, para devolver ao povo o custo da sua formação?
Os ganhos
pecuniários por um indivíduo não deveriam ser limitados? O fato de uma
pessoa ser um estereótipo de beleza ou ter habilidade artística ou
desportiva, o torna merecedor de regalias inatingíveis até mesmo por
outros gênios úteis para a humanidade? Um educador que promova a
emancipação dos seus educandos ou um pesquisador que descubra a cura de
uma doença é menos importante que o artista, o atleta ou a modelo?
Estas
e outras questões deverão ser esmiuçadas pela sociedade para que seja
encontrado um rumo que a Nação tomará para se tornar um reflexo vivo dos
seus cidadãos.