quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A política como vocação

O Estado é uma relação de homens dominando homens, relação esta mantida por meio da violência legítima. Há três legitimações do domínio:
I.A  autoridade  dos  "santificados"  pelo  reconhecimento  antigo. É o domínio  tradicional  exercido  pelo patriarca e pelo príncipe patrimonial de outrora;
II.A autoridade do dom da graça (carisma) extraordinário e pessoal, do heroísmo o u outras qualidades da liderança individual. É o domínio carismático, exercido pelo profeta ou, no campo da política, pelo senhor de guerra eleito, pelo governante eleito pelo povo, o grande demagogo ou o líder do partido político;
III.O  domínio em virtude da "legalidade", em virtude da fé na validade do estatuto legal e da competência  funcional,  baseada em regras racionalmente criadas. Nesse caso, espera-se obediência  no cumprimento das obrigações  estatutárias. É o domínio  exercido  pelo  moderno "servidor  do  Estado"  e  por todos os portadores do poder que, sob esse aspecto, a ele se assemelham.
A obediência é determinada pelos motivos bastante fortes do medo e esperança e pelos mais variados interesses. Mas em termos de legitimações dessa obediência, há três  tipos puros: tradicional, carismático e legal.
Raramente encontra-se os tipos puros na realidade. Mas, neste ensaio, se interessa principalmente  pelos  tipos  de  domínio  em  virtude  da  dedicação, dos que  obedecem,  ao  carisma exclusivamente pessoal do líder, pois essa é a raiz de uma vocação em sua expressão mais elevada.
Na dedicação carismática, os homens obedecem ao líder porque acreditam nele, a orientação de seus discípulos é direcionada para a sua pessoa e para suas qualidades. "Esses políticos de vocação seriam em toda parte as únicas figuras decisivas na luta política pelo poder".
O  domínio  organizado  exige  que  a  conduta  humana  seja  condicionada  à  obediência  para  com  os senhores que pretendem ser os portadores do poder legítimo tenham o controle dos bens materiais que são necessários para o uso da violência física.
A ordem estatal burocrática é (...) característica do Estado moderno. No Estado contemporâneo  a  separação entre o quadro administrativo, os funcionários administrativos e os trabalhadores, em relação aos meios materiais de organização administrativa, é completa. O Estado moderno é uma associação compulsória que organiza a dominação. Teve êxito ao buscar monopolizar o uso legítimo da força física como meio de dominação dentro de um território. A política pode ser uma ocupação subsidiária (quando a pessoa pode dedicar-se à política, sem que a política seja "sua vida") ou uma vocação.
Há dois modos pelos quais alguém pode fazer da política a sua vocação: viverpara a política: faz dela a sua vida, num sentido interior, desfruta a posse do poder que exerce pela consciência de que sua vida tem sentido  a  serviço  de  uma  "causa";  ou viver  "da"  política:  quem  luta  para  fazer  dela  uma  fonte  de  renda permanente. Weber  salienta  que um político  profissional  não  precisa  buscar  uma remuneração  direta  pelo trabalho político.
Os principais tipos de políticos profissionais: clero, literatos de educação humanista, nobreza cortesã,
"gentis-homens" e o jurista de formação universitária - peculiar ao Ocidente, especialmente à Europa, sendo de significação decisiva para a estrutura política do continente europeu.
Tomar  uma  posição,  ser  apaixonado,  é  o  elemento  do  líder  político.  Sua  conduta  está  sujeita  a  um princípio  de  responsabilidade  muito  diferente  do  servidor  público.  A  honra  do  líder  está  numa responsabilidade  pessoal  exclusiva  pelo que ele faz e que ele  não  pode  e  não  deve  rejeitar  ou  transferir.
Desde a época do Estado constitucional, desde que a democracia se estabeleceu, o "demagogo" tem sido o líder político típico do Ocidente. O publicista político, e acima de tudo do jornalista, é hoje o representante mais importante da espécie demagógica.
É humana e comovente quando uma pessoa tem consciência da responsabilidade pelas consequências de sua conduta e realmente sente essa responsabilidade no coração e na alma, como dizia o grande  sociólogo alemão: "na medida em que isso é válido, uma ética de fins últimos e uma ética de responsabilidade não são contrastes absolutos, mas antes  suplementos, sendo que só em uníssono  um homem, genuíno – pode ter a 'vocação para a política".
Assim como as outras, esta obra de Max Weber é, ao lado das de Marx, Comte e Durkheim, um dos
fundamentos  da  Sociologia  contemporânea.  Daí  o  especial  interesse  que  este  livro  terá  para  os  leitores desejosos  de  informar-se  acerca  do  pensamento  sociológico  moderno.  Pela  leitura  dos dois ensaios aqui reunidos, poderão iniciar-se no conhecimento da contribuição metodológica weberiana ao mesmo tempo em que apreciar brilhantes análises substantivas daquilo que, no entender dos seus críticos mais autorizados, é o núcleo das preocupações de Weber: a racionalidade. Nesses dois ensaios, o grande sociólogo alemão estuda a maneira pela qual a prática científica contribui para o desenvolvimento da racionalidade humana e analisa com percuciência as condições de funcionamento do Estado moderno, focalizando assim a oposição básica entre a "ética de condição" do cientista e a "ética de responsabilidade" do político, dois pilares polarizadores das opções humanas, ainda conceituando poder, política, Estado e o ser humano.

domingo, 10 de agosto de 2014

O Príncipe , Maquiavel - A crueldade e a clemência. Se é preferível ser amado ou temido


Todos os Príncipe s devem preferir ser considerados clementes, e não cruéis. Porém deve se saber usar essa clemência. Quando o objetivo é manter o povo unido e leal, o Príncipe não deve se importar em ser tido por cruel; os Príncipe s novos no poder não podem fugir da reputação de cruel, pois estes estados são os mais perigosos.
Seria bom que o Príncipe fosse ao mesmo tempo amada e temido, mas como essa junção é difícil, é preferível que seja temido. Temido de forma que, se não é possível conseguir o amor de seus súditos, se evite o ódio; o que é conseguido não atentando contra as mulheres e os bens dos súditos e cidadãos. Se for necessário que o Príncipe decrete a execução alguém, que este dê um bom motivo.
"Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha."
Quando o Príncipe está à frente do exército deve manter a fama de cruel, ou caso o contrario, o monarca não conseguirá comandar com êxito.
O amar vem de acordo com cada homem, mas o temor lhes é imposto; sendo assim o Príncipe deve fazer o uso do que lhe tem nas mãos, e não no que depende da vontade alheia.

O Leviatã - Thomas Hobbes, 1651

O motivo que leva os seres humanos a criar os Estados é o desejo de abandonar essa miserável condição de guerra que […] [surge] quando não existe poder visível que os controle […]. O único caminho para criar semelhante poder comum, capaz de defende-los contra a invasão dos estrangeiros […], assegurando-lhes de tal modo que por sua própria atividade e pelos frutos da terra poderão alimentar-se a si mesmos e viver satisfeitos, é conferir todo o seu poder e fortaleza a um homem ou a uma assembléia de homens […] que representem sua personalidade […]. Isso é algo mais que consentimento ou concórdia; é uma unidade real de tudo isso em uma e mesma pessoa, instruída por pacto de cada homem com os demais […]. Feito isso, a multidão assim unida em uma pessoa se denomina Estado.
Tradução livre de HOBBES, Thomas. O Leviatã.