Por Francisco Fernandes Ladeira em 29/04/2014 na edição 796
Gramsci já dizia que, em épocas de crise das tradicionais organizações
partidárias de direita, a grande imprensa assumiria o papel de principal
partido politico das forças conservadoras. No Brasil, pelo menos desde
2002, com a chegada do Partido dos Trabalhadores à presidência da
República, a direita têm decaído progressivamente nas eleições. Sendo
assim, impossibilitadas de voltar ao poder máximo da nação pelo voto
popular, as principais lideranças conservadoras vêm buscando vias
extraparlamentares, como a mídia e o Supremo Tribunal Federal, para
influenciar nas principais decisões políticas do país.
Corroborando as teses gramscianas, a grande mídia brasileira (o
oligopólio formado pelas famílias Marinho, Frias, Mesquita e Saad) vem
promovendo uma intensa campanha contra o atual governo e, por outro
lado, tem obliterado casos de corrupção envolvendo políticos da
oposição.
Vejamos alguns exemplos recentes. Enquanto o julgamento da Ação Penal
470, mais conhecida como “mensalão petista”, teve ampla cobertura
midiática (com o ministro Joaquim Barbosa alçado ao status de herói
nacional), o chamado “mensalão tucano”, encabeçado por Eduardo Azeredo,
praticamente não foi mencionado nos principais veículos da imprensa
tupiniquim. A mesma mídia que noticia sistematicamente a polêmica compra
de uma refinaria em Pasadena (EUA) pela Petrobrás, se calou diante das
irregularidades ocorridas nas privatizações realizadas pelo governo FHC.
Já as notícias sobre as relações do doleiro Alberto Yousseff com
políticos governistas e oposicionistas demonstram claramente o
verdadeiro direcionamento ideológico da mídia hegemônica. Após uma
reportagem da Folha de S.Paulo que denunciou os negócios
ilícitos entre Alberto e o deputado petista André Vargas, teve início
uma intensa campanha midiática para que o caso fosse devidamente
apurado. Tais atitudes seriam extremamente elogiáveis se fossem
aplicadas a qualquer tipo de situação.
Objetivos políticos
Pois bem, de acordo com investigações realizadas pela prefeitura de
Maringá (PR), o doleiro em questão também é acusado de financiar
campanhas de vários políticos paranaenses, entre eles o senador Álvaro
Dias, do PSDB. Entretanto, sobre este assunto nenhuma palavra na mídia
hegemônica. Dois pesos, duas medidas. Por que não há denúncias na
imprensa contra o político tucano?
Portanto, não é preciso um extenso exercício hermenêutico para
constatar o caráter tendencioso da grande mídia brasileira.
Evidentemente que não há discurso que seja completamente neutro.
Contudo, lembrando um clássico pensamento de Alberto Dines, a imprensa
de nosso país transforma meras reportagens em verdadeiros editoriais.
Coberturas jornalísticas que deveriam se limitar apenas à transmissão de
informações ou a relatos dos fatos tornam-se, sob o prisma midiático,
mecanismos para escoar uma determinada agenda política.
Em suma, a “campanha anticorrupção” promovida pelos grandes veículos de
comunicação, apesar de aparentemente bem intencionada, não possui
objetivos morais, mas exclusivamente políticos. Trata-se somente de uma
ofensiva de setores direitistas contra o governo do PT e tem como
principal escopo fazer com que os tradicionais partidos que representam
as forças conservadoras retomem seus cargos que foram perdidos nos
últimos processos eleitorais. Diante dessa realidade, não é por acaso
que o acrônimo PIG – partido da imprensa golpista – tem estado cada vez
mais em voga no Brasil.
“Coronelismo midiático”
Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores, ao buscar se perpetuar no
poder máximo da nação, atrelou-se ao que há de mais reacionário na
política nacional e assim, ao contrário dos governos venezuelano e
argentino, nada pode fazer para acabar com a vergonhosa concentração
midiática que há em nosso país.
Desse modo, diante da inércia governamental, é preciso que os setores
progressistas se engajem em campanhas que reivindiquem a completa
democratização dos meios de comunicação para que os diferentes segmentos
sociais possam construir (como afirmava o supracitado Gramsci) seus
próprios mecanismos de contra hegemonia.
Em última instância, uma verdadeira democracia passa, indubitavelmente, pelo fim do “coronelismo midiático”.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências
Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG