Se os coronéis
não existem mais, ainda predominam nos municípios goianos os chefes
políticos que, ao longo dos anos, se elegem prefeitos, fazem os
sucessores e nomeiam os protegidos para os cargos nas prefeituras
Diário da Manhã - Helton Lenine
A
exemplo do que ocorria no passado, desde a República Velha quando os
coronéis mandavam na política municipal e estadual, ainda hoje
predominam os chamados chefes políticos. No Brasil e em Goiás, eles
estão esparramados pelos rincões afora.
Nos 246 municípios goianos, são raras as localidades onde não
existem os chefes políticos, os que dominam os partidos, escolhem os
candidatos e fazem predominar suas vontades. É uma tradição da política
que se arrasta por décadas.
Os chefes políticos se elegem para os cargos de prefeito,
elegem os sucessores, ajudam na campanha de candidatos a vereador e
ainda interferem na nomeação de amigos, parentes e aliados a cargos
comissionados nas prefeituras.
Há municípios em que os prefeitos foram os mesmos por 20 anos e
em outros os chefes políticos elegeram os sucessores, que, normalmente,
foram familiares.
Nas eleições de 2012, segundo dados da Associação Goiana de
Municípios, mais da metade das cidades o prefeito conseguiu se reeleger
ou elegeu o sucessor.
Na prática, o que se verifica é a vontade do chefe político
prevalecendo, apesar da existência de lei que impossibilita mais de dois
mandatos consecutivos. Há casos em Goiás de políticos que tiveram cinco
mandatos de prefeito ou de vereador.
Em consequência da desobediência às leis eleitorais é que
houve mudança de titularidade por cassação ou renúncia, realizando-se as
eleições suplementares em várias cidades, em diversos pleitos.
Há exemplos de prefeitos que, concluídos os mandatos em suas
cidades, transferiram o domicílio eleitoral para localidades próximas e
renovaram o mandato em outro município, burlando a legislação eleitoral.
O caciquismo é oriundo da época do Império, mas o método era
utilizado por poucos líderes políticos até ser redescoberto na República
Velha e se perpetuado após a Revolução de 30, chegando aos dias atuais.
Uma vez que o fenômeno é bastante semelhante ao coronelismo e ao caudilhismo, o caciquismo difere na agressividade.
O cacique político é o chefe político local de uma determinada
comunidade, pode ser um deputado estadual, federal ou um senador. Seu
domínio se espalha pelos currais eleitorais que estão a seu dispor. O
traço principal do coronel-cacique é a chamada política clientelista,
esta se dá através de concessão de favores e cargos públicos, chamados
de cargos de confiança, ou cargos comissionados.
O caciquismo também se utiliza da chamada política de mão no
ombro. Normalmente o cacique domina seu eleitorado da mesma forma que o
caudilho, isto é, pela emoção, mas detém o poder de controlar a
quantidade de votos de determinada região da mesma forma que o
coronelismo, só que desta vez o controle é por zona eleitoral, e não por
área rural. Desta forma, o cacique age cortando as verbas e trabalhos
da máquina estatal para esta zona eleitoral, propiciando um
enriquecimento ou empobrecimento da região conforme sua necessidade de
angariar poder. Igual ao coronel, o cacique age também sobre o processo
eleitoral local, o que multiplica seu poder e o torna temido.
Quem é quem
pelo estado
afora
Goiânia, com mais de um milhão de habitantes, é exceção, pois
não há predomínio de um chefe político. O comando da prefeitura, ao
longo dos anos, se pulverizou. Apenas Iris Rezende se impôs na Capital,
mesmo assim pelo voto popular. Foi eleito prefeito de Goiânia por três
mandatos e vereador uma vez. Se há um chefe político na Capital, ele se
chama Iris Rezende. O líder do PMDB contribuiu com a eleição de seu
sucesso, o prefeito Paulo Garcia. Nion Albernaz foi prefeito nomeado uma
vez e eleito pelo povo por duas vezes. Nion exerceu forte influência na
política de Capital, contribuindo com a vitória de candidatos a
vereador, deputado estadual e federal. Agora, acaba de ajudar na eleição
do neto, Thiago Albernaz, a vereador.
Em Anápolis, não há um chefe político na história recente. Os
irmãos Santillo – Henrique, Adhemar e Romualdo – dominaram a política
anapolina desde a década de 70. Henrique Santillo, médico, foi vereador,
prefeito, deputado estadual, senador, governador. Adhemar foi deputado
estadual, deputado federal e prefeito por três mandatos. Romualdo uma
vez deputado estadual. Onaide, mulher de Adhemar, deputada estadual por
três vezes. Os irmãos Santillo influenciaram, com o prestígio, a eleição
de diversos companheiros para a Câmara de Vereadores. O médico
Anapolino de Faria também teve seu período de chefe político: foi
deputado estadual, deputado federal e prefeito por três vezes. Anapolino
elegeu também seus aliados a vereador. Os irmãos Rubens e Antônio
Gomide podem ser considerados os chefes políticos atuais de Anápolis.
Rubens é deputado federal pelos segundo mandato e Gomide prefeito
reeleito, depois de ter sido vereador.
Em Rio Verde, o médico Juraci Martins, prefeito reeleito, dá
as cartas, numa cidade onde já teve chefes políticos como Paulo Roberto
Cunha, Osório Santa Cruz, Eurico Veloso.
Em Jataí, o político mais influente é Maguito Vilela, que foi
governador e hoje exerce o cargo de prefeito de Aparecida de Goiânia. O
engenheiro civil Humberto Machado, que exerce o quarto mandato à frente
da Prefeitura de Jataí, foi lançado por Maguito, a exemplo dos
ex-prefeitos Nelson Antônio e Fernando Peres. Deputado federal Leandro
Vilela é sobrinho e o deputado estadual Daniel Vilela filho de Maguito.
Em Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela dá as cartas, depois
de ser reeleito prefeito da cidade. Ademir Menezes, que foi prefeito
duas vezes, ajudou na eleição de José Macedo para a prefeitura, ocupa
mandato de deputado estadual. Seu filho, Mas Menezes, foi vereador.
Outro expoente da política da cidade foi Norberto Teixeira, prefeito,
deputado estadual e deputado federal.
Em Mineiros, o advogado Agenor Rezende, que já foi vereador,
deputado estadual, governador, é o prefeito da cidade. Aderaldo Barcelos
é outro político influente. Foi prefeito por dois mandatos e elegeu sua
esposa, Neiba Barcelos, também por duas vezes. A cidade já teve um
líder político influente, na década de 1970: José Alves de Assis,
vice-prefeito, deputado estadual e deputado federal.
Em Itumbiara, o maior liderança política é o ex-prefeito José
Gomes da Rocha, que ocupou o cargo por duas vezes e elegeu o seu
sucessor: Francisco Faria, o Chico Balla. Alcides Rodrigues e Marconi
Perillo tiveram votações expressivas em Itumbiara, na disputa para o
governo, graças à presença de José Gomes em seus palanques. A cidade já
teve chefes políticos importantes como Modesto de Carvalho, Radivair
Miranda e Waterloo Araújo.
Em Catalão, o agropecuarista Haley Margon Vaz foi prefeito e
exerceu forte liderança política. O médico Adib Elias foi prefeito por
dois mandatos, elegeu o sucessor, Velomar Rios e sua mulher, Adriete,
deputada estadual. O também médico Jardel Sebba, prefeito, foi deputado
estadual por dois mandatos.
Em Ipameri, o médico Rubens Cosac foi prefeito, deputado
estadual, deputado federal e elegeu a mulher, Lamis Cosac, prefeita e
deputada estadual.
Em Goianésia, o chefe político sempre foi o ex-governador
Otávio Lage, que elegeu os filhos – Otávio Lage Filho e Jallles Fontoura
– prefeitos da cidade. Jalles foi deputado estadual e federal. Em
diversos mandatos, Otávio elegeu aliados prefeitos da cidade. O advogado
Gilberto Naves também exerce forte influência na política da cidade,
pois foi prefeito por duas vezes, e elegeu sua mulher, Mara Naves,
prefeita e deputada estadual.
Em Ceres, o médico Valter Melo foi prefeito três vezes e
elegeu sua mulher, Wanda Melo, deputada estadual. O também médico Carlos
Mendes foi prefeito, deputado estadual e estadual. Tanto Valter quanto
Carlos elegeram diversos aliados prefeito e vereador na cidade.
Em Jaraguá, o empresário Francisco de Castro comandou vitórias
de diversos companheiros à prefeitura e à Câmara de Vereadores. Alano
de Freitas, seu primo, foi prefeito. O advogado Nelson de Castro foi
deputado estadual e atuou com força na política local. Lineu Olímpio foi
prefeito por duas vezes e elegeu o sucessor, Ival Avelar.
Em Luziânia, o lendário Joaquim Roriz (de tantos mandatos em
Goiás e no Distrito federal) já teve parentes, amigos e aliados
políticos ocupando cargos na prefeitura ou na Câmara, por sua
interferência. O médico Célio Silveira foi prefeito por dois mandatos. O
prefeito Cristovão Turmin (já foi deputado estadual) inicia seu período
de líder político local.
Em Formosa, José Saad foi prefeito por três vezes, eleito pelo
povo. Sebastião Monteiro, o Sebastião Caroço (hoje conselheiro do TCM)
foi prefeito duas vezes, elegeu o sucessor, Pedro Ivo Faria e tantos
vereadores da cidade. O prefeito Itamar Barreto inicia o seu período de
líder político local.
Em Trindade, Valdivino Chaves foi prefeito por três vezes e
ajudou a eleger diversos companheiros. O médico George Morais foi
prefeito da cidade por duas vezes e ajudou na eleição da esposa, Flávia
Morais, a deputada federal. George foi prefeito também de Santa Bárbara.
O empresário Jânio Darrot, depois de exercer mandato de deputado
estadual, ocupa a prefeitura da cidade.
Em Inhumas, Irondes José de Morais e José Essado, prefeitos da
cidade, foram chefes políticos. Essado é suplente de deputado estadual.
O deputado federal Roberto Balestra (cinco mandatos) não se elegeu
prefeito, mas contribuiu com a vitória de vários companheiros, entre
eles Abelardo Vaz Filho. O prefeito Dioji Ikeda inicia o seu período de
líder local.
Em Morrinhos, Napthali Alves de Sousa, Helenês Cândido e
Joaquim Guilherme Barbosa, quando ocuparam a prefeitura, foram líderes
políticos locais. O prefeito Rogério Troncoso, já em seu terceiro
mandato, também é influente chefe político da cidade.
Em São Luiz de Montes Belos, Waldemir Xerife reinou absoluto:
foi prefeito duas vezes e elegeu sua esposa, Marisa Guimarães, também
prefeita por duas vezes.
Em Porangatu, o empresário Júlio da Retífica foi prefeito,
elegeu o sucessor, José Oswaldo, e exerce mandato de deputado estadual.
Eronildo Valadares, atual prefeito, elegeu sua esposa, Vanusa Valadares,
deputada estadual.
Em Simolândia e Alvorada do Norte, no Nordeste do Estado. o
empresário e hoje deputado estadual Iso Moreira exerce, há décadas,
forte influência. Isso foi prefeito de Simolândia, elegeu sua esposa,
Deusdet Ferreira também prefeita, e o filho, Alessandro Moreira,
prefeito de Alvorada do Norte, além de sucessores nas duas cidades. Nos
demais municípios da região, Iso Moreira ajudou a arrumar votos para os
aliados chegarem às prefeituras e câmaras municipais.