segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Hobbes, Locke e Rousseau
Hobbes acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do próprio homem. Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se necessário existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para que o estado de guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do homem seja dominado. Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar os "instintos de lobo" que existem no ser humano e, assim, garantir a preservação da vida das pessoas. Para que isso aconteça, é necessário que o soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os cidadãos devem transferir o seu poder ao governante, que irá agir como soberano absoluto a fim de manter a ordem.
Locke parte do princípio de que o Estado existe não porque o homemé o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da assembléia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a idéia de um poder inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a monarquia).
Rousseau considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individual para garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.
Locke parte do princípio de que o Estado existe não porque o homemé o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da assembléia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a idéia de um poder inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a monarquia).
Rousseau considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individual para garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
domingo, 14 de fevereiro de 2016
Espíritos Desviantes
Quando seremos Espíritos Desviantes revelados?
Segundo Morin: Os Espíritos desviantes são aqueles que, contra tabu e a censura, fingiram concordar com aquilo em que não acreditavam, para salvar aquilo em que acreditavam. Pode-se entendê-los como sujeitos que não obedeceram ao determinismo cultural - e até científico - mas surgiram nas brechas abertas, ou que abriram no determinismo.
Segundo Morin: Os Espíritos desviantes são aqueles que, contra tabu e a censura, fingiram concordar com aquilo em que não acreditavam, para salvar aquilo em que acreditavam. Pode-se entendê-los como sujeitos que não obedeceram ao determinismo cultural - e até científico - mas surgiram nas brechas abertas, ou que abriram no determinismo.
Um conhecimento que se quer autônomo e emancipado, pronto para romper com as normalizações e imposições culturais, deve apresentar-se de maneira complexa, isto é, deve ser aberta a crítica (auto), e que ultrapasse os limites teóricos e metodológicos e o rigor científico, que possa estabelecer um dialogo com outros saberes - união do pensamento científico com o humanístico ( trans).
Extraído do texto de: André Wagner Rodrigues - Resenha: O método 4, de Edgar Morin.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Ideologia, política e corrupção
Trazido do Site e blog de Simon Schwartzman
O argumento da negação é um velho conhecido da psicologia social, com o nome de “dissonância cognitiva”. As pessoas se sentem mal quando têm que conviver com crenças, convicções e realidades contraditórias, e resolvem o problema buscando ignorar ou reinterpretar as ideias ou dados da realidade que mais incomodam. Todos fazemos isto de alguma forma, e o exemplo mais óbvio é o das pessoas religiosas que têm que conciliar a crença na bondade de Deus com a maldade do mundo. Existem várias maneiras de reduzir o incômodo, desde teorias complicadas até o argumento paranoico, que descarta todas as informações negativas como obras ou mentiras de uma conspiração (do diabo, das elites, do Banco Mundial, da imprensa burguesa, dos judeus, dos comunistas, ou de quem seja). No extremo, a negação pode levar a situações patológicas como a recusa em olhar para os dados do mundo real ou o recurso à violência contra os supostos inimigos.
O argumento ideológico pode ser entendido como uma das maneiras de lidar com a dissonância cognitiva, e um exemplo clássico é o dos comunistas históricos diante das revelações sobre os crimes do stalinismo em diversos momentos – os julgamentos de Moscou dos anos 30, o pacto com Hitler nos anos 40, o antissemitismo nos 50, e o Gulag em todo este tempo, culminando com o fim do “socialismo real”. Eram fatos inadmissíveis para tantos que passaram a vida criticando e lutando contra a exploração e os males do capitalismo e vendo na União Soviética o exemplo de uma sociedade mais justa e igualitária. A primeira reação era de negação – é tudo propaganda do inimigo, parte da luta de classes, ou da guerra fria. A segunda era colocar as informações incômodas em um canto isolado – é verdade, mas foram alguns erros, “mal feitos” e “desvios”, problemas do “culto à personalidade”, não foi tanto assim, foi a culpa de algumas ovelhas negras, mas nada que coloque em questão as conquistas e as convicções ideológicas de tantos anos. Outros reagiram de forma extrema, pulando para o outro lado – o capitalismo na verdade só fez o bem, o colonialismo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na África e Ásia, e o mal absoluto é o comunismo.
O argumento cínico é que ninguém é melhor do que ninguém, sempre foi assim, no Brasil e no resto do mundo. Todos roubam, mentem e se aproveitam das situações de poder, e o máximo que se pode fazer é acreditar que “nossos” ladrões também fazem outras coisas que consideramos boas – como reduzir a pobreza, ou desenvolver a economia, ou dar poder a determinados setores dos quais gostamos, ou participamos.
O argumento cínico é sem dúvida melhor do que os outros dois, porque não deixa de olhar a realidade, e substitui a ideologia pelo pragmatismo. Ele se torna ainda mais forte entre nós pelo fato de que o sistema político-eleitoral brasileiro sempre foi financiado seja por interesses privados, seja com recursos públicos manipulados pelos que estão no poder, e os limites entre o apoio desinteressado e legítimo e o apoio muito interessado são muito difíceis de ver. Quem for puro que atire a primeira pedra.
Mas é, também, um argumento falacioso, porque generaliza e é superficial. Embora exista corrupção em toda parte, e que ninguém seja santo, nem todos os países e nem todas as pessoas são igualmente corruptas, e é certamente melhor viver em uma sociedade com menos do que com mais corrupção, assim como é melhor viver em uma sociedade com menos do que com mais crime e violência. Mais ainda, a história mostra que os regimes aonde predomina o império da lei, e não a vontade dos que estão no governo, são em geral muito mais bem-sucedidos economicamente, e mais igualitários, do que os que toleram a corrupção em nome de ideologias, de supostas causas sociais, ou da tese cínica de que ninguém é culpado, porque “todo mundo faz”. Os crimes de uns, se houver, não podem jamais justificar os crimes dos outros.
Como explicar as diferenças, e como reduzir a corrupção? Não existem respostas simples, mas muitas indicações de caminhos a seguir. Embora existam exemplos de democracias corruptas e ditaduras relativamente honestas, o potencial de corrupção é muito maior nos regimes políticos fechados e intervencionistas, em que a distribuição de recursos e privilégios se dá de forma autocrática, quando o governo decide favorecer determinados grupos para receber financiamentos, subsídios e contratos para a realização de obras públicas por critérios pouco explícitos. Uma imprensa aberta a vigilante limita a possibilidade de conluios deste tipo, e favorece a adoção de práticas mais abertas e competitivas. A polêmica ideológica entre “estado mínimo” vs. “estado forte” não capta a verdadeira natureza dos problemas de corrupção associados ao setor público. É possível ter um estado enxuto e eficiente, capaz de implementar as políticas que interessam à sociedade, assim como estados inchados e infiltrados por todo tipo de interesses privados e conluios corruptos. A organização do sistema partidário e eleitoral pode fazer muita diferença: para reduzir a corrupção, é necessário aproximar ao máximo os mandatos políticos às preferências dos eleitores, e reduzir ao mínimo a possibilidade de captura dos líderes políticos por grupos de interesse ocultos. Mecanismos para isto incluem a exigência de fidelidade partidária, a transparência no financiamento de campanhas, proporcionalidade correta na representatividade no legislativo, e outras medidas no mesmo sentido.
A atual crise econômica e política brasileira, se nos servir de algo, deve nos ajudar a entender que o país precisa de reformas econômicas, políticas e institucionais muito mais profundas do que a simples substituição de um partido por outro, ou de uma ideologia por outra no governo. O que precisamos é identificar e apoiar, entre as diferentes correntes e lideranças políticas, aquelas que sejam menos dependentes dos recursos da corrupção e se mostrem mais capazes de entender os problemas e liderar as transformações, e aquelas sobre as quais não há como ter mais esperança.
domingo, 7 de fevereiro de 2016
Link: Estado Governo Sociedade
Link para acesso e baixar o Livro: Estado, Governo e Sociedade ( Norberto Bobbio).
http://www.libertarianismo.org/livros/nbeges.pdf
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Judiciário brasileiro: caro e ineficiente
O Judiciário brasileiro, o mais caro do mundo,
consome 1,2% do PIB nacional, mas seus integrantes querem mais
privilégios e mordomias
por André Barrocal
O governo vetou o reajuste. Os servidores pressionam
Caixa-preta
é uma definição recorrentemente associada à Justiça brasileira, por
conta do corporativismo que encobre os desmandos. Caixa-forte seria
outro termo apropriado. Em 2014, o sistema consumiu 68,4 bilhões de
reais em verbas públicas, o equivalente a 1,2% das riquezas produzidas
pelo País no período. A conta inclui as repartições federais, estaduais,
trabalhistas, eleitorais e militares. E não leva em conta o Supremo
Tribunal Federal e seus 577 milhões de reais de orçamento. Trata-se do
Judiciário mais caro do mundo, ou ao menos do Ocidente. E não se farta.
Quer mais dinheiro, não para acabar com a ineficiência e a morosidade dos tribunais, mas para engordar contracheques desde sempre generosos.
O recorde de gastos está detalhado na pesquisa “Abrindo a caixa-preta: três décadas de reformas do sistema judicial
do Brasil”, uma parceria entre Luciano da Ros, professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Matthew Taylor, da
Universidade Americana, de Washington. O trabalho completo só ficará
pronto em 2016, mas Ros publicou uma prévia. Em “O custo da Justiça no
Brasil: uma análise exploratória”, há uma comparação das despesas entre
países. O gasto é de 0,32% do PIB na Alemanha, de 0,28% em Portugal, de
0,19% na Itália, de 0,14% na Inglaterra e de 0,12% na Espanha. Nos
Estados Unidos, 0,14%. Na América do Sul, a Venezuela consome 0,34%, o
Chile, 0,22%, a Colômbia, 0,21%, e a Argentina, 0,13%.
A folha de pessoal é a principal causa do altíssimo custo. No Judiciário, há gente e mordomias demais. O pagamento
de 434.932 funcionários, entre juízes e servidores, mordeu 89,5% das
despesas totais em 2014. O salário médio alcança 10,8 mil mensais.
Apesar disso, a fatia de 1,2% no PIB é a mais baixa em seis anos,
motivo, segundo Ros, de estar em curso uma ofensiva por mais recursos.
Servidores de tribunais cercam o
Congresso há semanas em uma pressão pela derrubada do veto presidencial à
lei que reajustava o holerite da turma entre 53% e 78%. Se a lei
vigorar, o Judiciário ficará 5 bilhões de reais mais caro a partir de
2016. O custo dobrará de 2018 em diante. No mesmo Legislativo, avança um
projeto do STF, datado de agosto, que reajusta em 16% o salário dos 11
ministros da Corte. As excelências passariam a receber 39.293 reais
mensais. Detalhe: o salário dos ministros, hoje em 33.763 reais, foi
corrigido há menos de um ano.
Aumentar os vencimentos do STF tem
potencial para provocar um efeito dominó. Desde 2003, o salário dos
ministros da corte é referência para a remuneração máxima no setor
público. Na prática, a teoria é outra. A começar pelo próprio guardião
das leis. Inúmeros são os subterfúgios usados para proporcionar à
magistratura vencimentos acima do teto. Dados disponíveis na internet
mostram gente ilustre a estourar o limite. O juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato,
recebeu 82.370 reais em setembro. O presidente da Associação dos
Magistrados Brasileiros, José Ricardo dos Santos Costa, 41.262 reais. O
da associação dos juízes federais, Antonio César Boechenek, 34.787
reais.
O pagamento acima do teto resulta dos
chamados “penduricalhos”. Auxílios, indenizações, gratificações e uma
penca de adicionais não definidas como “salário” e adotados do Oiapoque
ao Chuí. No Rio Grande do Sul, paga-se um “auxílio-táxi” de 123,80
reais. Goiás instituiu em 2013 um “auxílio-livro” de 3,2 mil anuais. No
Rio de Janeiro, há desde setembro um “auxílio-educação” de 953 reais por
filho de juiz. Em 2011, o Conselho Nacional de Justiça, cuja missão é
vigiar o Judiciário, criou um “auxílio- alimentação” e uma licença
remunerada para cursos no exterior, entre outros.
Tudo serve de pretexto. No início do mês,
o STF aprovou uma “diária” de 5,4 mil mensais a ser paga a 17 juízes
que trabalham como auxiliares dos ministros. Justificativa: os
magistrados precisam deixar seus lares para trabalhar. Durante a
aprovação, o ministro Luiz Fux,
com uma verve sindicalista, disse que “a magistratura é uma atividade
espinhosa que merece valorização em relação a todas as outras
categorias”.
Essa autoimagem do juiz nativo explica
muito da proliferação dos penduricalhos. Os togados parecem se sentir
cidadãos especiais. Em outubro de 2014, o presidente do Tribunal de
Justiça de São Paulo, José Roberto Nalini, disse em entrevista à TV
Cultura que só “aparentemente” o magistrado brasileiro ganha bem. “Ele
tem de comprar terno, mas não dá para ir toda hora a Miami comprar
terno, a cada dia da semana ele tem de usar um terno diferente, uma
camisa razoável, um sapato decente, ele tem de ter um carro.” Um
contraste com o entendimento em outros países. Entrevistado para o livro
“Um país sem excelências e mordomias”, da jornalista brasileira Claudia
Wallin, moradora na Suécia há 12 anos, Goran Lambertz, um dos 16
ministros da Corte Suprema sueca, disse que “luxo pago com o dinheiro do
contribuinte é imoral e antiético”. Ao comentar os privilégios dos
colegas brasileiros foi impiedoso: “É absolutamente inacreditável que
juízes tenham o descaramento e a audácia de ser tão egocêntricos e
egoístas a ponto de buscar benefícios como auxílio-alimentação e
auxílio-escola para seus filhos. Nunca ouvi falar de nenhum outro país
onde juízes tenham feito uso de sua posição a este nível para beneficiar
a si próprios e enriquecer”.
A mordomia da moda é um auxílio-moradia
de 4.377,33 reais mensais. Foi determinada pelo STF em setembro do ano
passado, graças a uma liminar de Fux. Em abril de 2013, a associação dos
juízes federais, a Ajufe, havia ingressado no Supremo com uma ação a
favor do auxílio. Invocava isonomia. Se a benesse vigora para promotores
e procuradores de Justiça, conforme uma lei de 1993, por que não para
eles? Fux mandou pagar não só aos representados da Ajufe, mas a todos os
magistrados, 16.927 em todo o País. Custo da liminar para o Erário: 900
milhões de reais por ano. Procurado via assessoria de imprensa do STF,
Fux não se manifestou sobre o futuro da ação.
A liminar do ministro detonou um rastilho de
pólvora. Dias depois, o Conselho Nacional do Ministério Público resolveu
liberar o pagamento geral e irrestrito do auxílio-moradia a todos os
seus integrantes. Um casal de procuradores recorreu ao Superior Tribunal
de Justiça para receber um auxílio cada, apesar de morarem juntos. O
pedido foi atendido provisoriamente pelo relator, Napoleão Maia, que
entre outras justificativas invocou trechos da liminar de Fux. Um
manifesto liderado pelo ex-procurador-geral da República Claudio
Fonteles condena a “visão profissional estritamente mercantilista” por
trás do auxílio-moradia e classifica este como tentativa de “ludibriar o
teto constitucional”. “Auxílios, gratificações e modalidades outras de
penduricalhos de tal jaez ofendem tratamento remuneratório democrático”,
afirma o texto.
Outro penduricalho na crista da onda é
uma gratificação para juízes federais, trabalhistas e militares por
acúmulo de função. O mimo é devido a quem assumir casos de um colega ou
atuar em outra vara ou corte. Enriquecerá em até um terço o salário das
excelências. A categoria arrancou a benesse na marra. Em setembro do ano
passado, houve uma espécie de greve contra o acúmulo de processos.
Semanas depois, o Congresso aprovou a gratificação, sancionada em
janeiro por Dilma Rousseff.
A gratificação foi regulamentada em abril
por uma resolução do Conselho da Justiça Federal, o CJF. E há quem
tenha visto esperteza em excesso na resolução. Para o procurador da
República Luciano Rolim, o CJF extrapolou os termos da lei e abriu a
porteira para um juiz federal
obter ganhos iguais àqueles de um ministro do STF e mais 15 dias de férias, além da boa vida de 60 dias garantidos. Em um país com 99 milhões de processos encalhados, não seria o caso de reduzir as férias a 30 dias, regra para os demais trabalhadores, em vez de esticá-las?
obter ganhos iguais àqueles de um ministro do STF e mais 15 dias de férias, além da boa vida de 60 dias garantidos. Em um país com 99 milhões de processos encalhados, não seria o caso de reduzir as férias a 30 dias, regra para os demais trabalhadores, em vez de esticá-las?
Entre os procuradores da Advocacia-Geral
da União, também há críticas às artimanhas do Judiciário contra o teto
salarial. Há algumas semanas, o procurador Carlos André Studart Pereira,
assessor da presidência da Associação Nacional dos Procuradores
Federais, pesquisou os contracheques de vários juízes e concluiu:
ultrapassar o teto é regra. “O subsídio dos magistrados é justo e
merecido. Os arranjos institucionais, não”, afirma Pereira, para quem a
diária aprovada pelo STF é “bizarra” e o auxílio-moradia, “patentemente
inconstitucional”.
Discretamente, o governo se insurge
contra os penduricalhos. Com as contas públicas combalidas, o Palácio do
Planalto mandou em setembro ao Congresso uma lei para definir quais
pagamentos precisam ser computados no cálculo do teto e quais podem
ficar de fora. Polêmica à vista. Desde dezembro de 2014, o STF estuda
uma nova Lei Orgânica da Magistratura Nacional, em substituição à
atual, de 1979. A minuta em discussão institucionalizaria vários penduricalhos.
atual, de 1979. A minuta em discussão institucionalizaria vários penduricalhos.
Às vezes, estes não são apenas
“patentemente inconstitucionais”. Beiram a quebra de decoro. Em 2009, o
CNJ recebeu uma denúncia de que o Tribunal de Justiça de São Paulo
pagava “por fora” juí-
zes que auxiliavam a elaboração de votos dos desembargadores. “Por fora”, no caso, permitia não recolher impostos à Receita e à Previdência, além de mascarar o estouro do teto. Apurar a denúncia não foi fácil. O presidente do TJ à época, Roberto Vallim Bellochi, mostrou-se pouco interessado em colaborar. Foi ao STF com um mandado de segurança, para não ter de prestar informações. Mesmo assim, o CNJ concluiu que houve irregularidades e determinou a suspensão dos pagamentos e a devolução do dinheiro. A corte paulista recorreu ao Supremo, comandado à época por Cezar Peluso, ministro que tinha um filho beneficiado pelo “auxílio-voto”. O relator da ação no STF, Dias Tof-
foli, concedeu uma liminar favorável ao TJ ainda em 2010. O processo está parado em seu gabinete desde 2013. Procurado via assessoria de imprensa do STF, Toffoli não se manifestou sobre o futuro da ação.
zes que auxiliavam a elaboração de votos dos desembargadores. “Por fora”, no caso, permitia não recolher impostos à Receita e à Previdência, além de mascarar o estouro do teto. Apurar a denúncia não foi fácil. O presidente do TJ à época, Roberto Vallim Bellochi, mostrou-se pouco interessado em colaborar. Foi ao STF com um mandado de segurança, para não ter de prestar informações. Mesmo assim, o CNJ concluiu que houve irregularidades e determinou a suspensão dos pagamentos e a devolução do dinheiro. A corte paulista recorreu ao Supremo, comandado à época por Cezar Peluso, ministro que tinha um filho beneficiado pelo “auxílio-voto”. O relator da ação no STF, Dias Tof-
foli, concedeu uma liminar favorável ao TJ ainda em 2010. O processo está parado em seu gabinete desde 2013. Procurado via assessoria de imprensa do STF, Toffoli não se manifestou sobre o futuro da ação.
O caso do “auxílio-voto” é ilustrativo do
que o advogado Marcelo Neves, ex-conselheiro do CNJ, relator do caso no
conselho e hoje professor da Universidade de Brasília, chama de
“corrupção sistêmica” no Judiciário. Para Neves, o CNJ abandonou o papel
de “fiscal do fiscal”. Tornou-se “corporativista” e “capturado por um
pacto mafioso existente entre os poderosos do Judiciário e do
Legislativo”. Ignoraria faltas disciplinares dos magistrados graúdos,
como aquelas do TJ paulista, para se ocupar de bagrinhos da primeira
instância em lugares distantes. “O CNJ é hoje um órgão sem significado
prático, principalmente no controle da corrupção, altíssima.”
Nancy Andrighi, Corregedora Nacional de
Justiça, discorda. Segundo ela, não passam de 50 os processos relevantes
que investigam desvios de conduta da magistratura, uma proporção
pequena num universo de 16 mil juízes. “Posso concluir, assim, que a
quase totalidade da magistratura brasileira é composta de juízes
honestos e idealistas”, afirmou por escrito. Em dez anos de existência, o
CNJ puniu 72 magistrados. A aposentadoria compulsória, pena mais dura,
atingiu 46. Na verdade, pode ser considerada um prêmio. Pendura-se a
toga, mas não se deixa de receber os vencimentos até o fim da vida,
graças a um dispositivo constitucional.
Se os tribunais funcionassem, o pesado fardo
financeiro até poderia não ser um problema. Não é o caso. “Nosso
Judiciário é caro e não se reverte em serviços prestados. Ele não se vê
como prestador de serviço público”, diz Luciana Gross Cunha,
coordenadora do Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Fundação Getulio
Vargas de São Paulo. Essa postura, afirma, tem várias explicações. Uma
cultura nacional que sempre enxergou a Justiça como apartada do Estado.
Uma formação acadêmica exageradamente jurídica por parte dos
magistrados. Juízes que parecem achar pouco digno preocupar-se com a
administração.
A melhora da gestão seria a mudança mais
urgente em um Judiciário à beira do colapso, acredita a acadêmica. Só no
ano passado, 28 milhões de novas causas chegaram aos tribunais. A taxa
de congestionamento, índice que indica quantos casos nunca tiveram
qualquer decisão, chega a 71%. “O Brasil precisa de uma carreira de
gestor jurídico, como os Estados Unidos fizeram há mais de cem anos”,
diz Luciana Cunha. Infelizmente, as prioridades são outras.
*Reportagem publicada originalmente na edição 873 de CartaCapital, com o título "Caro e ineficiente"
Baltazar Gracian
A maioria não estima aquilo que
compreende e venera o que não compreende. Para ter valor as coisas precisam ser
difíceis: se não o entenderem o terão em mais alta conta. Para ganhar respeito,
mostre-se mais sábio e mais prudente do que seria necessário para o bom
conceito do interlocutor. Mas faça-o com moderação. Os entendidos valorizam o
siso, mas com os demais é bem certa imponência: mantenha-os decifrando sua
mensagem, e não lhes de oportunidade de criticá-lo. Muitos elogiam sem que
consigam dizer o que seja. Veneram tudo o que é oculto ou misterioso, e elogiam
porque ouvem elogiar. (Baltazar Gracian)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Desigualdade Social no Brasil
Apesar de ser um país rico em recursos naturais e com um PIB (Produto Interno Bruto)
figurando sempre entre os 10 maiores do mundo, o Brasil é um país
extremamente injusto no que diz respeito à distribuição de seus recursos
entre a população. Um país rico; porém, com muitas pessoas pobres, devido ao fenômeno da desigualdade social, que é elevado.
Pesquisadores
da área social e econômica atribuem essa elevada desigualdade social no
Brasil a um contexto histórico, que culminou numa crescente evolução do
quadro no país.
Mesmo sendo uma
nação de dimensões continentais e riquíssima em recursos naturais, o
Brasil desponta uma triste contradição, de estar sempre entre os dez
países do mundo com o PIB mais alto e, por outro lado, estar sempre
entre os 10 países com maiores índices de disparidade social.
Dados da Desigualdade
Em um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas),
que foi divulgado em julho de 2010, o Brasil aparece com o terceiro
pior índice de desigualdade no mundo e, em se tratando da diferença e
distanciamento entre ricos e pobres, fica atrás no ranking apenas de
países muito menores e menos ricos, como Haiti, Madagascar, Camarões,
Tailândia e África do Sul.
A ONU
mostra ainda, nesse estudo, como principais causas de tanta
desproporcionalidade social, a falta de acesso à educação de qualidade,
uma política fiscal injusta, baixos salários e dificuldade da população
em desfrutar de serviços básicos oferecidos pelo Estado, como saúde,
transporte público e saneamento básico.
Teóricos
brasileiros, pessoas e instituições que estão à frente de iniciativas
que visam diminuir, e quem sabe, acabar com o problema da desigualdade
no Brasil, apontam uma difícil fórmula que deve aliar democracia com
eficiência econômica e justiça social como uma solução viável para o
problema.
Mesmo com a Constituição Federal e diversos códigos e estatutos,
assegurando o acesso à educação, moradia, saúde, segurança pública,
além de autonomias econômicas e ideológicas, a realidade que se vê ainda
é distante do que se reza nos direitos do cidadão brasileiro no tocante
à erradicação da desigualdade social neste país, em constante
crescimento econômico e político.
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