quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Os salários dos deputados, senadores, ministros do STF e da presidente



Redação Pragmatismo
Saiba quanto ganham deputados, senadores, ministros de governo, ministros do STF e Presidente da República, além dos benefícios adicionais específicos de cada cargo
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Deputados federais no Brasil ganham R$ 33,7 mil por mês, além de R$ 92 mil mensais de verba de gabinete, entre outros benefícios (divulgação)
PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
Salário mensal: R$ 30,9 mil.
Moradia: Duas residências oficiais em Brasília – o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto.
Plano de Saúde: Todas as despesas são pagas, incluindo as de familiares diretos.
Cotas: Não tem. A Presidência tem cartões corporativos, cujo limite varia de acordo com o orçamento.
Passagens: Viaja em aviões da FAB tanto em missões oficiais quanto em viagens de âmbito particular.
Cargos de confiança: Não há limites. Depende da criação de cargos autorizada pela Presidência.
MINISTROS DE GOVERNO.
Salário mensal: R$ 30,9 mil.
Moradia: Residência oficial ou auxílio moradia de R$ 6,6 mil.
Plano de Saúde: Não têm assistência específica, exceto se tiverem sido servidores públicos.
Cotas: Não têm. Têm acesso a cartão corporativo com limite que varia de acordo com o orçamento de cada ministério.
Passagens: Em missões oficiais, podem usar aviões da FAB ou voos de carreira.
Cargos de confiança: Não há limites. Depende da criação de cargos autorizada pela Presidência.
MINISTROS DO STF
Salário mensal: R$ 33,7 mil.
Moradia: Residência oficial ou auxílio-moradia de R$ 4,3 mil.
Plano de Saúde: Pagam plano de saúde específico do STF. Dependentes e cônjuges podem ser incluídos na cobertura.
Cotas: Não têm direito a cotas ou verbas de gabinete e nem acesso a cartões corporativos. Cada ministro tem direito a um carro oficial e motorista. Gastos com combustível são ilimitados.
Passagens: Cota anual de R$ 42,8 mil para gastos com passagens. O presidente do STF também pode viajar em aviões oficiais.
Cargos de confiança: Cada ministro pode nomear até 8 funcionários de confiança. Metade deles deve ser concursado. O salário bruto de cada assessor é de R$ 10,3 mil.
SENADORES
Salário mensal: R$ 33,7 mil.
Moradia: Apartamento funcional ou auxílio-moradia de R$ 4,2 mil.
Plano de Saúde: Senadores, cônjuges ou dependentes de até 21 anos (ou 24, quando universitários), têm despesas médicas reembolsáveis. Limite para despesas odontológicas e psicoterápicas é de R$ 25,9 mil.
Cotas: Cota parlamentar: R$ 15 mil (paga despesas com funcionários, aluguel de escritório de apoio, material de consumo, combustíveis, consultoria, entre outras). Despesas extras: R$ 9 mil (custos com gráficas e telefonia fixa). Despesas com telefone celular são ilimitadas.
Passagens: Cinco trechos de passagens aéreas entre a capital do Estado do senador e Brasília por mês.
Cargos de confiança: Podem nomear funcionários em Brasília ou em seus escritórios regionais desde que dentro do limite imposto pela cota parlamentar que é de R$ 15 mil por mês.
DEPUTADOS FEDERAIS
Salário mensal: R$ 33,7 mil.
Moradia: Apartamento funcional ou auxílio-moradia de R$ 4,2 mil.
Plano de Saúde: Deputados e familiares têm atendimento médico gratuito no departamento médico da Câmara. Deputados também podem ter despesas médicas e odontológicas realizadas na rede privada reembolsadas. A medida não se aplica a familiares.
Cotas: Cota de R$ 30,2 mil a R$ 44,9 mil (pode ser usada para pagar passagens, telefone, Correios, fretamento de aeronaves entre outras despesas. Varia de acordo com o Estado do parlamentar). Verba de gabinete: R$ 92 mil (destinada ao pagamento de cargos de confiança).
Passagens: Podem comprar passagens com a verba de gabinete. A partir de 2015, as mulheres dos deputados também poderão ter passagens pagas pela Câmara.
Cargos de confiança: Têm direito a nomear até 25 funcionários cujos salários somados não podem ultrapassar R$ 92 mil.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O neoliberalismo demoliu a noção de bem comum


Redação Pragmatismo Editor(a)
Política 20/Feb/2015 às 16:48

O bem comum foi enviado ao limbo pelo neoliberalismo. Em seu lugar, entraram as noções de rentabilidade, de flexibilização, de adaptação e de competitividade

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Leonardo Boff
As atuais discussões políticas no Brasil em meio a uma ameaçadora crise hídrica e energética se perdem nos interesses particulares de cada partido. Há uma tentativa articulada pelos grupos dominantes, por detrás dos quais se escondem grandes corporações nacionais e multinacionais, a mídia corporativa e, seguramente, a atuação dos serviços de segurança do Império norte-americano, de desestabilizar o novo governo de Dilma Rousseff. Não se trata apenas de uma feroz crítica às políticas oficiais mas há algo mais profundo em ação: a vontade de desmontar e, se possível, liquidar o PT que representa os interesses das populações que historicamente sempre foram marginalizadas. Custa muito às elites conservadoras aceitarem o novo sujeito histórico – o povo organizado e sua expressão partidária – pois se sentem ameaçadas em seus privilégios. Como são notoriamente egoístas e nunca pensaram no bem comum, se empenham em tirar da cena essa força social e política que poderá mudar irreversivelmente o destino do Brasil.
Estamos esquecendo que a essência da política é a busca comum do bem comum. Um dos efeitos mais avassaladores do capitalismo globalizado e de sua ideologia, o neo-liberalismo, é a demolição da noção de bem comum ou de bem-estar social. Sabemos que as sociedades civilizadas se constroem sobre três pilastras fundamentais: a participação (cidadania), a cooperação societária e respeito aos direitos humanos. Juntas criam o bem comum. Mas este foi enviado ao limbo da preocupação política. Em seu lugar, entraram as noções de rentabilidade, de flexibilização, de adaptação e de competitividade. A liberdade do cidadão é substituída pela liberdade das forças do mercado, o bem comum, pelo bem particular e a cooperação, pela competição.
A participação, a cooperação e os direitos asseguravam a existência de cada pessoa com dignidade. Negados esses valores, a existência de cada um não está mais socialmente garantida nem seus direitos afiançados. Logo, cada um se sente constrangido o garantir o seu: o seu emprego, o seu salário, o seu carro, a sua família. Impera o individualismo, o maior inimigo da convivência social. Ninguém é levado, portanto, a construir algo em comum. A única coisa em comum que resta, é a guerra de todos contra todos em vista da sobrevivência individual.
Neste contexto, quem vai implementar o bem comum do planeta Terra? Em recente artigo da revista Science (15/01/2015) 18 cientistas elencaram os nove limites planetários (Planetary Bounderies), quatro dos quais já ultrapassados: o clima, a integridade da biosfera, o uso do solo, os fluxos biogeoquímicos (fósforo e nitrogênio). Os outros encontram-se em avançado grau de erosão. Só a ultrapassagem desses quatro, pode tornar a Terra menos hospitaleira para milhões de pessoas e para a biodiversidade. Que organismo mundial está enfrentando essa situação que destrói o bem comum planetário?
Quem cuidará do interesse geral de mais de sete bilhões de pessoas? O neoliberalismo é surdo, cego e mudo a esta questão fundamental como o tem repetido como um ritornello o Papa Francisco. Seria contraditório suscitar o tema do bem comum, pois o neoliberalismo defende concepções políticas e sociais diretamente opostas ao bem comum. Seu propósito básico é: o mercado tem que ganhar e a sociedade deve perder. Pois é o mercado que vai regular e resolver tudo. Se assim é por que vamos construir coisas em comum? Deslegitimou-se o bem-estar social.
Ocorre, entretanto, que o crescente empobrecimento mundial resulta das lógicas excludentes e predadoras da atual globalização competitiva, liberalizadora, desregulamentora e privatizadora. Quanto mais se privatiza mais se legítima o interesse particular em detrimento do interesse geral. Como mostrou em seu livro Thomas Piketty, O Capitalismo no século XXI quanto mais se privatiza, mais crescem as desigualdades. É o triunfo do killer capitalism. Quanto de perversidade social e de barbárie aguenta o espírito? A Grécia veio mostrar que não aguenta mais. Recusa-se a aceitar do diktat dos mercados, no caso, hegemonizados pela Alemanha de Merkel e pela França de Hollande.
Resumindo: que é o bem comum? No plano infra-estrutural é o acesso justo de todos à alimentação, à saúde, à moradia, à energia, à segurança e à cultura. No plano social e cultural é o reconhecimento, o respeito e a convivência pacífica. Pelo fato de sob a globalização competitiva foi desmantelado, o bem comum deve agora ser reconstruído. Para isso, importa dar hegemonia à cooperação e não à competição. Sem essa mudança, dificilmente se manterá a comunidade humana unida e com um futuro bom.
Ora, essa reconstrução constitui o núcleo do projeto político do PT originário e de seus afins ideológicos. Entrou pela porta certa: Fome Zero depois transformada em várias políticas públicas de cunho popular. Tentou colocar um fundamento seguro: a repactuação social a partir dos valores da cooperação e a boa-vontade de todos. Mas o efeito foi fraco, dada a nossa tradição individualista a patrimonialista.
Mas no fundo vigora esta convicção humanística de base: não há futuro a longo prazo para uma sociedade fundada sobre a falta de justiça, de igualdade, de fraternidade, de respeito aos direitos básicos, de cuidado pelos bens naturais e de cooperação. Ela nega o anseio mais originário do ser humano desde que emergiu na evolução, milhões de anos atrás. Quer queiramos ou não, mesmo admitindo erros e corrupção, o melhor do PT articulou e articula esse anseio ancestral. É a partir daí que pode se resgatar, se renovar e alimentar sua força convocatória. Se não for o PT serão outros atores em outros tempos que o farão.
Cooperação se reforça com cooperação que devemos oferecer incondicionalmente.Sem isso viveremos numa sociedade que perdeu sua altura humana e regride ao regime dos chimpanzés.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

As muitas faces do financiamento de campanha

Considerado a raiz da maioria dos males políticos do país, atual modelo, que permite doações de empresas, é alvo de críticas de todos os lados. Julgamento no STF pode antecipar início das mudanças eleitorais

As eleições no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Segundo levantamento da revista Em Discussão! com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o custo do voto nas eleições presidenciais, por exemplo, cresceu quase quatro vezes entre 2002 e 2014, passando de R$ 227 milhões (valor atualizado) para R$ 830 milhões.
Campanhas mais caras significam maior dependência do poder econômico para uma candidatura competitiva — ou seja, mais participação e maior influência dos grandes doadores eleitorais, que são as grandes empresas.
Na legislação eleitoral vigente, não há limite em valores absolutos para a doação por parte de pessoas jurídicas, que podem doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior, fatia que será mais vultosa quanto maior for a companhia. Também não há restrição a que uma mesma empresa financie candidatos diferentes.
O fenômeno incomoda tanto a classe política quanto a sociedade civil organizada. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), por exemplo, não mede palavras. Para ele, o sistema está “putrefato”. “Tem que acabar já, de preferência ontem. Insistir nele é corroer todas as estruturas do estado democrático de direito”, diz. Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acredita que o financiamento privado de campanhas “tem sido o principal responsável por boa parte dos escândalos do país”.
Os problemas atuais
O juiz eleitoral Márlon Reis, fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), enxerga que uma “relação inadequada” se desenvolveu entre políticos e empresas devido ao modelo de financiamento privado. “As doações dão às empresas o direito de escolher a maior probabilidade de êxito. Os grandes doadores definem e quem não pode ou não quer doar fica em dificuldades depois, nos contatos políticos com o Estado. Não há finalidade cívica. É investimento”, explica.
O barateamento das campanhas e a redução do papel das empresas são apontados como prioridades em uma reforma política. O caminho indicado por diversos parlamentares e representantes de entidades é a adoção de alguma forma de financiamento público das campanhas.
Para Randolfe Rodrigues, a falência do modelo do financiamento privado está sendo demonstrada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga empresas suspeitas de pagarem propinas para garantir contratos com a Petrobras. “É a institucionalização da corrupção. Doa-se legalmente, mas depois ganha-se em licitação. Até o financiamento legal acaba sendo uma lavanderia”, resume o senador.
Randolfe também usa um exemplo concreto para ilustrar a influência das empresas doadoras de grandes somas. Ele relata que o grupo JBS, principal doador em 2014, com R$ 352 milhões distribuídos entre diversas candidaturas, protestou contra a indicação da senadora licenciada Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. “[A empresa] ficou insatisfeita com a nomeação e tentou vetar. Tenho minhas divergências com a senadora Kátia, mas o que a JBS está fazendo é uma chantagem ao governo, por ter interesses econômicos contraditórios”.
O juiz Márlon Reis entende que a confusão entre público e privado na prática governamental brasileira é, hoje, nada mais do que extensão das relações econômicas indiscriminadas entre candidatos e empresas durante o período eleitoral. “A campanha é a véspera do mandato. Se a campanha for uma relação íntima entre candidatos e empresas, ela perdurará depois, até como forma de recompensar essas empresas”, explica.
Movimentação da OAB
Até agora, o passo mais contundente para desmontar a influência das grandes empresas no financiamento de campanhas foi dado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A organização entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as doações eleitorais feitas por empresas.
O processo tem, por enquanto, seis votos favoráveis e um contrário — ou seja, já construiu maioria no STF, que é composto por 11 ministros. Um desses votos é do ministro Luís Roberto Barroso.
Para Barroso, o financiamento por empresas é “antirrepublicano e antidemocrático” por duas razões: não impede que o mesmo doador financie vários candidatos e não restringe a participação de empresas doadoras na gestão do governante eleito. “Isso não é exercício de liberdade de expressão, portanto considero que nesta hipótese ou há uma pressão — para não dizer um achaque — ou a pessoa está comprando um favor futuro. O candidato eleito termina pagando com dinheiro público o favor privado”, critica o ministro.
O presidente da OAB, Marcus Vinicius Coêlho, argumenta que a prática fere o princípio constitucional da igualdade. “O atual regime exacerba as desigualdades sociais ao permitir que os ricos tenham possibilidade muito maior de influir nos resultados das eleições. Alguém, por ter mais recursos ou por ser dono de uma empresa, não pode ter um fator de participação maior no momento mais importante da democracia”, discorre ele.
A movimentação no Supremo, provocada pela ação da OAB, pode levar o tribunal a se pronunciar sobre a questão antes do Congresso Nacional, já abrindo o caminho para o debate.
O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), crê que a expectativa do resultado favorável à ação pode quebrar a inércia do Legislativo em debater objetivamente o financiamento. “Ao decidir, os parlamentares terão em mente a decisão do STF. Acho que essa tendência de vetar a doação de empresas vai ajudar a convencer a classe política a favor do financiamento público”.
A votação no STF está parada desde abril, devido a um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. Humberto Costa já protestou no Plenário do Senado contra a demora e cobrou de Mendes a devolução do processo.
“O Poder Judiciário deve cumprir a sua parte com o aperfeiçoamento da democracia no Brasil. Senhor ministro, o Brasil espera que Vossa Excelência devolva ao debate essa ação, para que o STF possa tomar uma ação definitiva”, exortou o líder do PT, em outubro.
Dinheiro público
Entre quem debate o tema, não existe consenso a respeito de qual forma deveria tomar um modelo de financiamento público de campanha ou quais dimensões e profundidade ele alcançaria. Entre os questionamentos que se colocam na discussão, estão a proibição total ou parcial da participação de empresas, a questão das doações por pessoas físicas e a forma de distribuição do dinheiro público destinado a financiar campanhas.
O ex-senador Francisco Dornelles, hoje vice-governador do Rio de Janeiro, presidiu, em 2011, a Comissão Especial de Reforma Política do Senado, que elaborou diversos projetos de reestruturação política e eleitoral — nenhum dos quais foi aprovado em definitivo até hoje. Ele é favorável a mudanças, mas não muito profundas. “É muito difícil fazer um financiamento exclusivamente público. O sistema que existe hoje deve ser aperfeiçoado, estabelecidos alguns limites”, defende.
Apesar de apoiar a redução da participação do setor privado no financiamento de campanhas, Dornelles mostra-se reticente quanto a um modelo de financiamento completamente público, bancado pelos cofres do Estado. Ele também tem dúvidas quanto ao manuseio dos recursos. “Hoje você pode dar dinheiro a quem pensa como você. No financiamento público, seu dinheiro vai para partidos que você não gostaria de ajudar. E como uma cúpula partidária distribuiria esses fundos? Mandariam para os amigos do partido, os estados em que eles querem prevalecer”, questiona.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) confia na viabilidade de um modelo de financiamento público, contanto que ele venha acompanhado de uma mudança no sistema eleitoral proporcional que institua o voto em lista fechada para as eleições proporcionais (de deputados e vereadores). Essa medida, para ele, permitiria uma distribuição organizada do dinheiro e facilitaria a fiscalização dos gastos pelos tribunais eleitorais.
“No momento que você tem uma lista preordenada, nenhum candidato vai fazer campanha individual, e sim partidária. Com a lista, cabe aos tribunais fiscalizar apenas 32 partidos. Hoje, sem a lista, é necessário fiscalizar 500 mil candidaturas no Brasil. É inviável”, diz Caiado.
O senador acredita, ainda, ser uma temeridade entregar o dinheiro diretamente aos candidatos e entende que o financiamento público, se aplicado, deveria abastecer os caixas dos partidos, que então distribuiriam as verbas entre os candidatos segundo critérios próprios — daí a necessidade, para ele, do sistema de candidaturas em lista fechada.
A necessidade de conjugar o financiamento público à adoção da lista fechada também é lembrada pelo professor David Fleischer. Ele ainda coloca como alternativa a proposta do movimento Coalizão Democrática, capitaneada pela OAB e outras 43 entidades, que propõe eleição proporcional em dois turnos, sendo o primeiro reservado à votação na legenda para definir os quocientes partidários e o segundo dedicado à votação nominal em candidatos, estabelecendo os eleitos. Ambos os casos são vistos por Fleischer como formas de reduzir os custos as campanhas.
“O financiamento público só vai ser viável se a quantidade de candidatos for reduzida drasticamente, e a lista fechada pode ajudar. A proposta de eleições proporcionais em dois turnos reduz o número de candidatos no segundo, e a campanha entre os turnos tem duração pequena, o que reduz as despesas eleitorais”.
Já para definir em que proporção o dinheiro chegaria aos partidos, o senador Ronaldo Caiado sugere um cálculo que combine a representação parlamentar das legendas e o peso das bancadas estaduais. Partidos com mais membros na Câmara receberiam mais verbas nas eleições seguintes, de forma a refletir a preferência do eleitorado. Esse critério seria ponderado pelos desempenhos eleitorais dos partidos nos diferentes estados, de forma a melhor contemplar as siglas que fossem mais bem votadas nos estados mais populosos.
A forma de distribuição do dinheiro é objeto de um projeto de lei já existente no Senado, fruto dos trabalhos da Comissão Especial de Reforma Política. O Projeto de Lei do Senado 268/2011 aplica as regras de distribuição de verbas do Fundo Partidário às verbas públicas que seriam destinadas ao financiamento eleitoral. Ao mesmo tempo, ele cria barreiras à participação de pessoas físicas e jurídicas no caixa dos partidos.
A justificativa do texto elaborado pela comissão especial ressalta que os dispositivos permitem uma melhor fiscalização da prestação de contas dos partidos, já que determina a separação do caixa de campanha dos demais recursos e define a quantia exata de dinheiro lá disponível. O projeto foi aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), mas foi alvo de um recurso para ir a votação no Plenário, onde ainda não foi incluído na ordem no dia.
Modelo diferente de financiamento de campanhas com dinheiro público é sugerido pelo senador Reguffe (PDT-DF). Ele não considera uma boa ideia distribuir os recursos diretamente para partidos ou candidatos, pois vê brecha para mau uso do dinheiro ou proliferação de legendas de aluguel. “Vai ter gente querendo ser candidato só para ganhar dinheiro”, alerta.
A ideia de Reguffe é a realização de licitações para cada um dos serviços da campanha eleitoral, como impressão de panfletos e gravação de programas de rádio e televisão. A empresa que vencesse a concorrência prestaria o mesmo serviço a todos os candidatos, igualando a disputa em termos de produtos.
“A campanha seria chata, mas a pessoa teria que ganhar no convencimento, no conteúdo, nas propostas. Isso daria uma menor desigualdade e uma igualdade de condições entre todos os que fossem candidatos. Aí seria democracia pra valer”, explica o senador Reguffe, que já chegou a apresentar a mesma proposta quando era deputado federal, mas promete defendê-la no Senado.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A face e os números do novo Parlamento

Homem, branco, na faixa dos 50 anos, com formação superior e patrimônio declarado acima de R$ 1 milhão. Veja o perfil dos novos deputados e senadores e saiba, entre outras coisas, quem são os mais ricos, os mais jovens e os mais experientes
Homem, branco, na faixa dos 50 anos, com formação superior, empresário e dono de patrimônio superior a R$ 1 milhão. Essas são algumas das características predominantes entre os novos parlamentares. Um perfil que não reflete a maioria da sociedade, mas que repete a histórica distorção das representações no Parlamento brasileiro. Problema esse agravado, sobretudo, pelos elevados custos de campanha. Em geral, elege-se quem arrecada e gasta mais.
Veja o perfil do novo Congresso:
O velho e o novo
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Uldurico, o mais jovem do novo Parlamento
Bonifácio, o mais idoso entre todos
Aos 22 anos, o estudante Uldurico Júnior (PTC-BA), filho do ex-deputado Uldurico Pinto, é o mais jovem entre os novos parlamentares. No primeiro mandato eletivo, dividirá o plenário com o mineiro Bonifácio de Andrada (PSDB), de 84 anos, reeleito para a décima legislatura. Descendente de José Bonifácio, o Patriarca da Independência, o veterano mantém a tradição da família de ter um representante no Congresso ininterruptamente desde 1894.
Os deputados eleitos, por faixa etária
De cada dez parlamentares, quase sete têm mais de 45 anos de idade
De 22 a 25 anos – 8 (1,5%)
De 26 a 45 – 159 (31%)
De 46 a 65 – 302 (58,9%)
Acima de 65 – 44 (8,6%)
Os senadores eleitos, por faixa etária
Mais da metade dos recém-eleitos têm entre 46 e 65 anos
De 35 a 45 anos – 4 (14,8%)
De 46 a 65 – 15 (55,6%)
Acima de 65 – 8 (29,6%)
O mais e o menos votado

PSDB
Serra recebeu 11,1 milhões de votos
Carlos Andrade, na Câmara com 6 mil6.733 votos
De volta ao Senado após 12 anos, o ex-governador José Serra (PSDB-SP) alcançou a maior votação entre todos os congressistas eleitos. Foram mais de 11,1 milhões de votos no maior colégio eleitoral do país. Carlos Andrade (PHS-RR) é o deputado eleito com a menor votação do Brasil. Recebeu apenas 6.733 votos no estado com menor eleitorado do Brasil.Roraima tinha neste ano menos de 300 mil eleitores aptos para votar.

Negros sub-representados
Apesar de serem mais da metade da população, pretos e pardos elegeram apenas 20% dos parlamentares. Entre os novatos, está o baiano Bebeto Galvão (PSB), apoiado por lideranças do movimento negro. Ele também é sindicalista, bancada reduzida de 83 para 46 integrantes na próxima legislatura, conforme levantamento do Diap. Só 3% de todos os eleitos no Brasil em 2014 se declararam negros, como revelou a Revista Congresso em Foco.
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Bebeto Galvão, do movimento negro baiano
Uma Câmara de brancos
Mesmo representando mais da metade da população brasileira, negros e pretos são apenas 20% dos deputados eleitos
410 brancos (79,9%)
81 pardos (15,8%)
22 pretos (4,3%)

Mulheres continuam sendo exceção
A apresentadora de TV Brunny (PTC-MG), de 25 anos, é a mais jovem entre as 51 mulheres eleitas para a Câmara. Casada com um deputado estadual,ela engrossa a bancada dos parentes de políticos eleitos no Congresso.A representação feminina cresceu ligeiramente em relação à eleição de 2010, mas as mulheres continuarão ocupando menos de um décimo dos cargos legislativos federais.
Divulgação
Brunny, a mais jovem entre as 51 eleitas na Câmara
Os reis da grana


Dos 513 deputados eleitos, 248 declararam à Justiça eleitoral possuir patrimônio superior a R$ 1 milhão. Na Câmara, o mais rico é o reeleito Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que declarou possuir bens no valor de R$ 108 milhões. A maior fortuna do novo Congresso é de Tasso Jereissati (PSDB-CE), que volta ao Senado. O empresário informou ter R$ 389 milhões, o que representa mais de 80% do declarado por todos os 27 eleitos. Por outro lado, 11 disseram não possuir nenhum bem em seu nome, como a empresária Jozi Rocha (PTB-AP).

Divulgação
Kaefer, patrimônio declarado de R$ 108 milhões
A bancada dos mais ricos
Dez partidos concentram 206 dos 248 deputados com patrimônio declarado à Justiça eleitoral superior a R$ 1 milhão

PMDB – 39
PSDB – 32
PSD – 24
PP – 23
PR – 18
PTB – 16
DEM – 15
PSB – 15
PT – 13
PDT – 11
Fonte: G1

 
Antônio Cruz/ABr
Jereissati, fortuna estimada em R$ 389 milhões
Os mais ricos no Senado


Mais de 80% dos R$ 479,6 milhões declarados pelos 27 eleitos pertencem ao ex-senador Tasso Jereissati, que volta à Casa. Veja quais são os cinco mais ricos dentre eles
Tasso Jereissati (PSDB-CE) – R$ 389 milhões
Fernando Collor (PTB-AL) – R$ 20,3 milhões
Acir Gurgacz (PDT-RO) – R$ 10,9 milhões
José Maranhão (PMDB-PB) – R$ 8,8 milhões
Wellington Fagundes (PR-MT) – R$ 8,6 milhões
Tiririca e os letrados
Tiririca, o de menor escolaridade
Mais de 80% dos parlamentares eleitos concluíram a faculdade, média muito superior à nacional. Segundo o TSE, menos de 4% dos eleitores têm curso superior completo. No Congresso de letrados, há pouco espaço para quem estudou pouco: somente quatro não terminaram o ensino fundamental. Só Tiririca (PR-SP) informou saber apenas ler e escrever. Único parlamentar da última legislatura a ter pós-doutorado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não conseguiu se reeleger. Primeiro senador da história do PT, ele deixa a Casa que ocupou nos últimos 24 anos.
A escolaridade dos deputados
De cada dez parlamentares eleitos, oito têm curso superior completo. Dos 513, somente Tiririca declarou saber apenas ler e escrever
Ensino superior completo – 411 (80,1%)
Ensino médio completo – 45 (8,8%)
Superior incompleto – 38 (7,4%)
Fundamental completo – 10 (1,9%)
Fundamental incompleto – 4 (0,8%)
Ensino médio incompleto – 4 (0,8%)
Só lê e escreve – 1 (0,2%)
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
A escolaridade dos senadores
Entre os 27 eleitos, todos chegaram à faculdade e apenas cinco não concluíram o curso
Superior completo – 22 (81,5%)
Superior incompleto – 5 (18,5%)

Mídia Ninja
Jean segue como único parlamentar declaradamente homossexual
O confronto continua

Ag. Câmara
Após polêmica na CDH, Feliciano foi o terceiro mais votado em SP
Com votação dez vezes superior à obtida em 2010, Jean Wyllys (Psol-RJ) foi reeleito na condição de único parlamentar assumidamente homossexual. Segundo estimativa da ABGLT, 126 deputados eleitos têm afinidade com a causa dos gays. Outros 60 são reconhecidos como adversários. Entre os principais opositores, estão congressistas ligados a igrejas, policiais e militares. Com pelo menos 82 nomes na Câmara, os evangélicos seguem a tendência de crescimento. Em 2010, elegeram 78 deputados. O polêmico Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi o terceiro mais votado em seu estado. O ainda mais controverso Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva, renovou o mandato como o campeão de votos no Rio de Janeiro.

A origem dos parlamentares
Levantamento preliminar indica perfil dos deputados eleitos e a força de algumas das principais bancadas

Empresários – 190
Ruralistas – 139
Evangélicos – 82
Sindicalistas – 46
Policiais – 20
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Como se definem os senadores eleitos
Maior parte dos recém-eleitos declarou apenas ser político à Justiça eleitoral
Políticos – 10
Advogados – 2
Economistas – 2
Médicos – 2
Administradores – 2
Empresários – 2
Servidor público – 1
Outros – 6
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
Rumo ao recorde

Miro se aproxima de recorde de mandatos na Câmara
Entre os reeleitos, apenas Miro Teixeira (Pros-RJ) supera Bonifácio de Andrada em número de mandatos. Na Casa desde 1971, o parlamentar fluminense participará de sua 11ª legislatura. Ficará a uma do recorde do ex-deputado Manoel Cavalcanti (BA), que cumpriu 12 mandatos. Ao todo, 198 parlamentares estrearão na Câmara em 2015.