quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O RELÓGIO DOS CORONÉIS DO NORDESTE



Os relógios Omega, ou Ômega, são sinônimos de confiabilidade e precisão.
No passado, tanto quanto agora, era um objeto de desejo dos mais abastados.
Para quem pesquisa o tem cangaço e se debruça sobre carcomidos processos penais envolvendo estes bandoleiros das caatingas, não é difícil encontrar entre os objetos listados, quando no caso de um roubo, um relógio desta marca, mostrando a preferência que os antigos coronéis tinham por este produto.

Feliz Natal


Coronelismo no judiciário ??

 *Carta Capital
Juízes criticam “canetaço” e “coronelismo” de Barbosa
O presidente do STF é cobrado por entidades após substituir o magistrado responsável por execuções penais do Distrito Federal
O presidente eleito da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), João Ricardo dos Santos Costa, criticou nesta segunda 25 a decisão tomada por Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), de afastar o juiz de execuções penais de Brasília. Insatisfeito com a postura do juiz Ademar Vasconcelos durante as condenações do chamado “mensalão”, Barbosa o afastou de suas funções no último sexta 22.
O magistrado havia permitido a transferência de José Genoíno para prisão domiciliar. O deputado encontra-se na casa de uma das suas filhas desde domingo 24. Vasconcelos foi substituído por Bruno André Silva Ribeiro, filho do ex-deputado distrital do PSDB Raimundo Ribeiro.
“Pelo menos na Constituição que eu tenho aqui em casa não diz que o presidente do Supremo pode trocar juiz, em qualquer momento, num canetaço,” disse ele em Porto Alegre, de acordo com reportagem do jornal O Globo.
Segundo Santos Costa, não há previsão constitucional para a substituição do magistrado de suas funções pelo presidente do STF.
Candidato de oposição à atual diretoria da AMB, Santos foi eleito no último domingo 24 como novo presidente da entidade.
“Eu espero que não esteja havendo politização, porque não vamos permitir a quebra de um princípio fundamental, que é uma garantia do cidadão, do juiz natural, independentemente de quem seja o réu. Não é possível escolher o juiz que vai julgar determinada causa, isso não podemos permitir para nenhuma situação,” disse Santos Costa, ainda segundo o jornal.
Coronelismo. No mesmo dia, a associação Juízes para a Democracia divulgou uma nota para criticar a atitude de Barbosa. A entidade cobrou esclarecimentos sobre a substituição do juiz de execuções penais. “A acusação é uma das mais sérias que podem pesar sob um magistrado que ocupa o grau máximo do Poder Judiciário e que acumula a presidência do Conselho Nacional de Justiça”, escreveu Kenarik Boujikian, presidenta da Associação Juízes para a Democracia''
E completou: “O povo não aceita mais o coronelismo no Judiciário”.
Ainda segundo a nota, “a Constituição Federal e documentos internacionais garantem a independência judicial, que não é atributo para os juízes, mas para os cidadãos”. A entidade cobrou respeito às regras claras e transparentes para a designação de juízes, modos de acesso ao cargo, que não podem ser alterados por pressão das partes ou pelo Tribunal.
“O presidente do STF tem a obrigação de prestar imediato esclarecimento à população sobre o ocorrido, negando o fato, espera-se, sob pena de estar sujeito à sanção equivalente ao abuso que tal ação representa. A Associação Juízes para a Democracia aguarda serenamente  a manifestação do presidente do Supremo Tribunal Federal.”
Também em nota, o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Nino Toldo, destacou que não se pode aceitar nenhum tipo de pressão que possa "ferir a autonomia da magistratura".

O Coronelismo no Nordeste Brasileiro

Manoel Batista de Oliveira (*)
Fotografia: Coronéis Chico Heráclio e Chico Romão (in "Coronel, Coronéis" de Vilaça & Cavalcanti de Albuquerque, Ed. Universidade de Brasília - 1978)
O Coronelismo no Nordeste já teve dias melhores. A sua História se confunde com a própria política do Brasil, principalmente na Região Nordeste. A maioria deles foi oficializado e institucionalizado com as patentes da Guarda Nacional, criada em 1831. Os Coronéis mais famosos e conhecidos, por toda a nossa região, foram homens de têmpera, forjados pela canícula e as intempéries do Sertão e afins.
Com o progresso se espalhando pelos interiores - estradas, rádios, caminhões, o retrato no Título de Eleitor, a cédula única - o Coronelismo se abalava porém, não morria. Quando o primeiro Coronel do Sertão pernambucano foi processado por um crime de morte, houve a previsão do desaparecimento do mandonismo local, erroneamente. O último Coronel já foi cantado muitas vezes, sem nunca ter sido o último. Ainda hoje, existem alguns políticos do interior querendo apresentar o espírito dos velhos Coronéis, em vão. São apenas projetos que não chegam aos pés do que foram os grandes Coronéis do passado. Senão, vejamos o que disse José Augusto, sobre o seu conterrâneo José Bernardo à época do seu centenário transcorrido à 20 de agosto de 1937. O trabalho do insigne homem de letras tem o título de: “UM CHEFE SERTANEJO - JOSÉ BERNARDO DE MEDEIROS” e vem publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RN, em seu Volume XXXII a XXXIV - anos 1935-37 às páginas 97 a 128. Começa assim:
“Há na História política do Nordeste uma página de justiça a escrever: é aquela a que têm direito os chamados chefes políticos locais, os Coronéis tão pejorativamente encarados por quantos se ocuparam até aqui do estudo ou da crítica dos nossos costumes político-partidários”.
Certo, houve sempre entre eles gente da pior espécie, exploradores das posições em que eram mantidos por longos anos pelo bafejo e prestígio de apoio oficial, pela força que lhes davam governos desabusados, dirigindo os municípios que tomavam sob sua guarda e chefia pelos mais condenáveis processos, muitas vezes violentos, por outras tantas desonestas. Mas, a influência de tais guias e condutores era efêmera, passageira, fugaz, desaparecendo e sumindo-se tão pronto cessava o suporte governamental que lhes assegurava a permanência e garantia o predomínio nefasto. Tais chefes não se improvisavam e independiam da vontade dos governos, mantendo-se, nas horas de bonança ou de ostracismo, em virtude do prestígio que lhes advinha espontâneo e sólido, de irrepreensível confiança popular. Eram verdadeiras autoridades sociais, postas à frente de todos os movimentos em face de qualidades excepcionais, notadamente qualidades de caráter, e uma contínua preocupação pelo bem público. Os coronéis existiram porque tinham eminente função social a desempenhar, e da sua ação, particularmente na zona do Seridó cujo passado estudei detidamente, na generalidade dos casos, o que a justiça manda proclamar é que foi benéfica, altruística, necessária, imprescindível mesmo.”

Portanto eis aí, em síntese, o que representou o Coronelismo no Brasil político de antanho.
PS: No século passado, muitos coronéis estiveram em cena em Pernambuco: Veremundo Soares controlava tudo em Salgueiro; coronel Quelé, chefe do clã dos Coelho, mandava em Petrolina; Zé Abílio reinava em Bom Conselho. Chico Heráclio era o rei de Limoeiro. Mandou na cidade desde 1920, quando foi eleito prefeito, até a sua morte, em 1974, aos 89 anos de idade. Conhecido com “O Último Coronel de Pernambuco”, foi personagem de várias história de abuso de poder. (fonte: http://www.pe-az.com.br/)

(*) Sócio da SBEC, reside em Nova Floresta - PB.

Coronéis, Cangaceiros e Fanáticos

O sertão brasileiro, mais particularmente o interior do Nordeste, passava por uma crise social sem precedentes durante o final do século XIX e o início do século XX. O sertanejo se sentia abandonado pelas autoridades, isolado da civilização, e sofria com uma infra-estrutura que beneficiava os grandes proprietários das fazendas, os "coronéis", que se tornaram os donos do sertão. A vida girava em torno desses "coronéis". Eles protegiam e perseguiam, mandava e desmandavam. Na política, cometiam todo tipo de fraude para beneficiar seus candidatos. Em seus territórios, dependendo da maior ou menor liderança, nada se fazia sem a sua determinação. Os humildes, portanto, estavam sob o seu domínio.
Os coronéis cometiam arbitrariedades e suas vítimas não tinham a quem recorrer. "A situação dos pobres do campo no fim do século XX, e mesmo em pleno século XX, não se diferenciava daquela de 1856. Era mais do que natural, era legítimo, que esses homens sem terra, sem bens, garantias, buscassem uma "saída" nos grupos de cangaceiros, beatos e conselheiros, sonhando a conquista de uma vida melhor. E muitas vezes lutando por ela a seu modo, de armas nas mãos", comentou Rui Facó.
Coronéis, cangaceiros e fanáticos fazem parte de uma mesma realidade. Os coronéis organizavam grupos armados para, através deles, exercerem o poder. Esses homens armados antecederam o cangaço. No instante em que se libertaram do jugo dos coronéis e passaram a fazer justiça pelas próprias mãos, se transformaram em cangaceiros.
Os cangaceiros foram imediatamente classificados de "bandidos", pelas autoridades e pela elite sertaneja. Na realidade, eles estavam fora da lei, porque não se enquadravam dentro nas regras vigentes na região: obediência total aos grandes proprietários. Alguns fazendeiros de menor prestígio, para fugir dos desmandos dos "coronéis", faziam aliança com cangaceiros...
Os coronéis podem cometer todo tipo de violência, tomar terras, cometer assassinatos, sem problemas, porque representavam a sociedade, uma comunidade machista, a lei, o poder.
As oligarquias se auto-intitulavam defensores dos bons costumes, contrárias, portanto, à ação dos "bandidos". O que elas defendiam, na realidade, eram seus bens, uma situação que lhes dava somente privilégios. Por outro lado, os homens humildes do sertão, rudes, sem instrução, ofendidos e humilhados, pensando em vingança, não podiam agir de outra maneira, a não ser através da violência. O cangaço foi, num certo sentido, um levante contra o absolutismo dos coronéis, e filho da miséria que reinava numa estrutura latifundiária obsoleta e injusta.
O pequeno agricultou, o trabalhador do campo, sonhava com um mundo diferente, onde não houvesse seca, com rios perenes e onde, sobretudo, ninguém passasse fome e houvesse o império da justiça... Era o mundo que os "beatos" e místicos prometiam para seus adeptos. Os trabalhadores rurais queriam dialogar com Deus, mas não sabiam como agir em busca do caminho que levasse, todos eles, para o Paraíso. Faltavam, entretanto, sacerdotes. Na ausência dos padres, homens simples, analfabetos ou não, impressionados com a realidade em que viviam, apelavam para o sobrenatural, rezavam e chegavam a imaginar a si próprios enviados de Deus, para livrar o povo do pecado e da miséria, através da oração e de sacrifícios... Para eles somente assim os nordestinos poderiam atingir a felicidade eterna!
Os dois maiores místicos foram: padre Cícero Romão Batista e Antonio Conselheiro, ambos cearenses! O primeiro exerceu uma grande influência em todo o Nordeste e ainda hoje mantém adeptos no Rio Grande do Norte.
Diferente dos demais, o padre Cícero possuía uma grande cultura e era profundo conhecedor do sertão. Acontece que sua fama de "milagreiro" despertou uma reação negativa na própria Igreja Católica.
O padre Cícero é a própria síntese do sertão nordestino: não foi apenas um fazedor de milagre. Foi muito mais. Com o passar do tempo, cresceu o seu poder, exercendo grande influência política. Passou a ser um "coronel". Conviveu com cangaceiros. Teve, inclusive, um encontro com Lampião, dando-lhe a patente de capitão. O que muitos não podiam compreender era a sua opção pelos pobres, provocando um conflito com a ala conservadora da Igreja. Sobre ele, ponderou Neri Feitosa: "Propôs-se a si mesmo ou recebeu de Deus a missão de levantar o ânimo do nordestino humilhado e sofredor, injustificado em seus direitos, embaraçados na saída do túnel de suas desditas".
Como chefe político, sofreu também oposição daqueles que seguiram orientação contrária à sua maneira de agir.
O Nordeste, naquela época, era uma região onde predominava a miséria, ignorância e a violência.
Diante desse quadro, é compreensível que o homem rude, não fazendo parte dos protegidos dos coronéis, optasse pelo cangaço para fugir da prepotência dos policiais ou procurasse seguir os beatos, para se redimir de seus pecados e conseguir, através da oração e do sacrifício, atingir a felicidade eterna...
Os cronistas urbanos, quase sempre combatiam a ação dos assaltantes, enquanto os cantadores, geralmente exaltavam os cangaceiros e também os místicos.