terça-feira, 6 de dezembro de 2011

gilletePRESS - SÓ PARA OS “DONOS” DO SISTEMA ELEITORAL:

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14 de fevereiro de 2011
Reforma será conduzida pelos mesmos caciques que se beneficiam do modelo


“Todo poder emana do povo,
muito embora pouco dele
em seu nome seja exercido”.
(Gercinaldo Moura)


Interesseiro como só ele, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), puxou para si a responsabilidade de mudar as regras de um modelo político-eleitoral que ajuda a mantê-lo com mandatos consecutivos há 56 anos, sempre com total apoio dos seus capachos-eleitores e sócio-correligionários.
A primeira polêmica sobre a reforma no modelo eleitoral brasileiro é uma questão de etimologia (interpretação), e do entendimento da malandragem dos políticos espertos (sem-vergonhas).
Antes mesmo de começarem os trabalhos das comissões especiais das duas casas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado), há dúvidas sobre a profundidade da proposta e como ela deveria ser chamada: reforma política, ou eleitoral?

Acinte aos brasileiros

Para conduzir os trabalhos de preparação de uma proposta de reforma, adivinhe: foram escalados os políticos mais caras-de-pau do Senado: os ex-presidentes da República Fernando Collor (PTB-AL) e Itamar Franco (PPS-MG).

Em 2006, a estratégia de deixar a reforma nas mãos de uma “elite” parlamentar foi testada e não prosperou. Arlindo Chinaglia (PT-SP), que era presidente da Câmara, “negociou” (com $$$) acordos com lideranças das principais legendas e reservou a pauta de votações em plenário por quase um mês para discutir a reforma política.
Os temas centrais do projeto previam o financiamento público de campanha, o fim das coligações partidárias e a adoção de listas fechadas para eleições proporcionais - pelas quais o eleitor votaria apenas no partido e não no candidato.
Apesar do consenso entre PT, PSDB e DEM, as votações empacaram.
- Forças ocultas...

Negócios, negócios, e “negócio$$$

Só a proposta das listas fechadas foi votada – e rejeitada por 252 votos a 181. O resultado foi patrocinado por uma revolta dos parlamentares com menos poder na política interna dos partidos e que temiam ser preteridos por caciques na formulação das listas partidárias que indicariam os eleitos. Apenas o PT, que havia fechado questão pela mudança, teve cerca de 30 deputados que mudaram de opinião em cima da hora.

Distrital, dismisto e distritão

Neste ano, a retomada da discussão começa em torno das mesmas três propostas. A diferença é que ganham força outras sugestões em relação às listas fechadas, como o voto distrital, o voto distrital misto e o “distritão”. Hoje, o sistema das eleições proporcionais (para vereador, deputado estadual e federal) é o de lista aberta – na qual, sem saber, o brasileiro (bonzinho, cordato...) vota primeiro no partido (ou coligação) e depois no candidato.

No voto distrital puro há divisão do eleitorado em distritos, que votam só em candidatos da região - por escolha majoritária (ganha quem recebe mais votos).
Por outro lado, pelo voto distrital misto, o eleitor vota duas vezes, primeiro num parlamentar do seu distrito e depois num partido pelo sistema de listas fechadas.
Finalmente (ufa...!), o modelo do “distritão”, simplesmente substitue a eleição proporcional pela majoritária.

Porém, ...
Há grande discordância entre os maiores partidos: o PT quer as listas fechadas, mas aceitaria o voto distrital misto como segunda opção; o PMDB é favorável ao “distritão”, enquanto o PSDB defende o voto distrital puro, mas, com ressalvas.

Sempre a Globo

O portal de notícias G1 (g1.com.br) publicou uma enquete com 414 dos 513 deputados sobre as listas fechadas: 181 disseram ser contra, 175 a favor, e 58 não sabiam.
Outra pesquisa, feita na semana passada pelo jornal Valor Econômico, mostrou que apenas 192 deputados pertencem aos seis partidos que defendem o sistema – PSC, PCdoB, DEM, PSoL, PT e PPS.
- O “distritão” é a primeira opção de PMDB, PP e PR, que têm 126 deputados.

Corporativismo

Como no Senado, a Câmara formará uma comissão especial para tratar a reforma. O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), têm sido mais cauteloso nas declarações do que José Sarney. Maia defende uma reforma “fatiada”, dividindo os principais temas em projetos distintos para facilitar a formação de consensos – mesma tentativa encabeçada pelo ex- presidente Lula após as eleições municipais de 2008 e que também empacou no Congresso.

Todas as vezes que um grupo de pessoas que se considera ‘iluminado’ tenta impor algo contra a visão geral do povo, dá errado”, opina o cientista político da Universidade Federal da Bahia Joviniano Neto. Segundo ele, além de defender os interesses corporativos, os congressistas acabam pressionados pelo pensamento hegemônico da população.
- “Para o bem e para o mal, o brasileiro vota no candidato, não no partido. É um fenômeno que precisa ser entendido, respeitado, e não alterado à força”, sentencia Joviniano Neto.

Cá com meus botões

Quer saber? Eu acho – e, estou convicto – que o brasileiro (por ser bonzinho, ingênuo e bobinho político) merece tudo isso. E, acomodado, enquanto não aprender a reclamar (e reivindicar os seus direitos) continuará refém (escravo) dessa corja. Pois, por nada querer com a política, o brasileiro vai estar sempre longe do poder que dá aos seus (seus?) representantes.
Como disse o poeta, dramaturgo e encenador alemão Bertolt Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais." – (Lacerda da Silva/ lacerdadasilva@hotmail.com)

Foto – collor sarney e itamar

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