Diário da Manhã
Salatiel Soares Correia
Basta ver quem, hoje, comanda as grandes casas políticas desta nação continente e compará-los com quem anteriormente citei nestes escritos. A diferença de envergadura é enorme. O que levou Getúlio Vargas ao poder não foi a imagem, mas um importante processo político que se constituiu na vitoriosa Revolução de 1930. Fatores muito diferentes conduziram o ex-presidente Fernando Collor à presidência da República. Nesta situação, predominou a imagem, a forma, enquanto que, na primeira, predominou o conteúdo, os princípios em torno de uma grande causa.
Se, antes, tínhamos um projeto de nação, este se perdeu por completo depois dos anos 1980. Se, antes, os princípios norteavam a vida política do país, o que, hoje, vemos preponderar é o culto à esperteza como reserva de valor. O aqui e agora vale mais que o legar um país melhor para a sociedade do futuro.
Vivenciamos aquilo que bem define o genial escritor peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de literatura, como sendo a “civilização do espetáculo”. Uma civilização para a qual a forma vale mais que o conteúdo. Para Llosa, “na civilização do espetáculo, a política passou por uma banalização talvez tão pronunciada quanto a literatura, o cinema e as artes plásticas, o que significa que nela a publicidade e seus slogans, lugares-comuns, frivolidades, modas e manias ocupam quase inteiramente a atividade antes dedicada a razões, programas, ideias e doutrinas. O político de nossos dias, se quiser conservar a popularidade, será obrigado a dar atenção primordial ao gesto e à forma, que importam mais que valores, convicções e princípios”.
Veremos muito disso nas próximas eleições. Um personagem típico dessa civilização do espetáculo de que tanto nos fala o autor em seus escritos e aparece nos tempos de eleição: o marqueteiro. O marqueteiro constrói tudo que se refere à imagem de um candidato. Vende este como um produto. É exatamente aí que a forma se evidencia mais que o conteúdo.
Cabelos bem penteados, impostação da voz, promessas para a sociedade entrar no paraíso aqui mesmo na terra. Tudo meticulosamente estudado e planejado pelos marqueteiros para bem-vender o seu produto.
Muito diferentes eram aqueles tempos em que um Carlos Lacerda encantava pela oratória; de um Luís Carlos Prestes repleto de idealismo e causas revolucionárias; de Getúlio nos tempos da Segunda Guerra Mundial ou de um Juscelino Kubitschek e sua ânsia de acelerar o desenvolvimento do país de “cinquenta anos em cinco”. Em nível regional, diferente também de um Mauro Borges e seu famoso plano MB. No tocante ao estado do Tocantins, diferente daqueles tempos em que habitavam por lá o idealismo de um Souza Porto, de um João de Abreu ou até mesmo de um Teotônio Segurado. Homens que tinham uma causa e a ela dedicaram o seu viver. E assim o espetáculo faz da política de hoje uma fantasia. A forma reflete a falta de crença. É lamentável que seja assim.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento, autor, entre outras obras, do livro A Construção de Goiás)
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