quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Os marqueteiros da política na civilização do espetáculo

Diário da Manhã
Salatiel Soares Correia
A política de hoje, certamente, não é igual à de ontem. Os valores universais que fundamentavam a vida pública de fato empobreceram. Se ontem preponderavam, na cena política do País, personalidades do jaez de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Oswaldo Aranha ou Celso Furtado, todos homens de Estado com visão de mundo, nos dias de hoje, o que presenciamos é o predomínio da pequena política mais preocupada não com os destinos da nação, mas com sua própria sobrevivência nas próximas eleições.
Basta ver quem, hoje, comanda as grandes casas políticas desta nação continente e compará-los com quem anteriormente citei nestes escritos. A diferença de envergadura é enorme. O que levou Getúlio Vargas ao poder não foi a imagem, mas um importante processo político que se constituiu na vitoriosa Revolução de 1930. Fatores muito diferentes conduziram o ex-presidente Fernando Collor à presidência da República.  Nesta situação, predominou a imagem, a forma, enquanto que, na primeira, predominou o conteúdo, os princípios em torno de uma grande causa.
Se, antes, tínhamos um projeto de nação, este se perdeu por completo depois dos anos 1980. Se, antes, os princípios norteavam a vida política do país, o que, hoje, vemos preponderar é o culto à esperteza como reserva de valor. O aqui e agora vale mais que o legar um país melhor para a sociedade do futuro.
Vivenciamos aquilo que bem define o genial escritor peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de literatura, como sendo a “civilização do espetáculo”. Uma civilização para a qual a forma vale mais que o conteúdo. Para Llosa, “na civilização do espetáculo, a política passou por uma banalização talvez tão pronunciada quanto a literatura, o cinema e as artes plásticas, o que significa que nela a publicidade e seus slogans, lugares-comuns, frivolidades, modas e manias ocupam quase inteiramente a atividade antes dedicada a razões, programas, ideias e doutrinas. O político de nossos dias, se quiser conservar a popularidade, será obrigado a dar atenção primordial ao gesto e à forma, que importam mais que valores, convicções e princípios”.
Veremos muito disso nas próximas eleições. Um personagem típico dessa civilização do espetáculo de que tanto nos fala o autor em seus escritos e aparece nos tempos de eleição: o marqueteiro. O marqueteiro constrói tudo que se refere à imagem de um candidato. Vende este como um produto. É exatamente aí que a forma se evidencia mais que o conteúdo.
Cabelos bem penteados, impostação da voz, promessas para a sociedade entrar no paraíso aqui mesmo na terra. Tudo meticulosamente estudado e planejado pelos marqueteiros para bem-vender o seu produto.
Muito diferentes eram aqueles tempos em que um Carlos Lacerda encantava pela oratória; de um Luís Carlos Prestes repleto de idealismo e causas revolucionárias; de Getúlio nos tempos da Segunda Guerra Mundial ou de um Juscelino Kubitschek e sua ânsia de acelerar o desenvolvimento do país de “cinquenta anos em cinco”. Em nível regional, diferente também de um Mauro Borges e seu famoso plano MB. No tocante ao estado do Tocantins, diferente daqueles tempos em que habitavam por lá o idealismo de um Souza Porto, de um João de Abreu ou até mesmo de um Teotônio Segurado. Homens que tinham uma causa e a ela dedicaram o seu viver. E assim o espetáculo faz da política de hoje uma fantasia. A forma reflete a falta de crença. É lamentável que seja assim.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento, autor, entre outras obras, do livro A Construção de Goiás)

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