sábado, 29 de junho de 2019

PÓS DOUTORES I



Quando a pessoa coloca no CV que é Pós-doutor em alguma coisa, podem contar que é picaretagem. Ao contrário do mestrado e doutorado, pós-doutorado não é formação, mas sim um estágio de pesquisa que se faz, geralmente, em outra instituição. (João Feres Jr. - Cientista Político - IESP/UERJ)

Pós-doutorado, turismo acadêmico e benefícios indiretos.
Ao ver um cientista brasileiro se gabando do seu pós-doutorado, desconfie. Se a diferença entre o MBA no mundo e no Brasil é resultado da nossa falta de integração (além da regulação light da pós-graduação lato sensu, que garante autonomia universitária pare que as instituições usem os nomes que quiserem para seus cursos), o caso do pós-doutorado não pode ser explicado por isso, pois é resultado de um elitismo por parte de pesquisadores que deveriam ser mais bem informados. O pós-doutorado é usado no mundo para que os recém-doutores que não conseguiram empregos de professores assistentes possam continuar fazendo pesquisa, para conseguirem, no futuro, subir na carreira. Pós-doutorado não é título. Não existe pós-doutor e o PhD (doutorado) é o maior título acadêmico que existe. Por que então no Brasil muitos pesquisadores colocam no Lattes (currículo padrão dos acadêmicos brasileiros) o pós-doutorado quase como título? Por duas razões: no passado, quando o país vivia em crises cambiais constantes, fazer o pós-doutorado no exterior era um benefício indireto de ser professor de universidade pública. Muitos usavam o pós-doutorado como turismo acadêmico (prática comum em todo o mundo, especialmente na escolha de conferências), enquanto outros usavam a oportunidade para criar uma rede de contatos no exterior. De qualquer forma, a não ser que o pós-doutorado fosse para fazer parte de uma equipe de uma sumidade da área, essa experiência não é algo que deveria constar no currículo de forma destacada.
Conheço vários cientistas que estão fazendo pós-doutorado na NYU Shanghai. Todos estão dando o máximo para que suas pesquisas sejam publicadas, de forma a conseguir um emprego permanente em alguma instituição de ponta. No mundo a última qualificação de um cientista é o doutorado, mas no país da jabuticaba inventamos mais uma forma de discriminar pesquisadores, através de um “título” inexistente.
Acho pequena a visão brasileira focada em titulações como forma de diferenciação. Não usamos títulos somente como sinais no mercado de trabalho, mas também como outra forma de “elites” se manterem distantes da realidade de um país desigual. Mas se for para se fazer isso, que pelo menos deixemos de usar títulos inexistentes.
Por: Blog Rodrigo Zeidan

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