sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

As muitas faces do financiamento de campanha

Considerado a raiz da maioria dos males políticos do país, atual modelo, que permite doações de empresas, é alvo de críticas de todos os lados. Julgamento no STF pode antecipar início das mudanças eleitorais

As eleições no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Segundo levantamento da revista Em Discussão! com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o custo do voto nas eleições presidenciais, por exemplo, cresceu quase quatro vezes entre 2002 e 2014, passando de R$ 227 milhões (valor atualizado) para R$ 830 milhões.
Campanhas mais caras significam maior dependência do poder econômico para uma candidatura competitiva — ou seja, mais participação e maior influência dos grandes doadores eleitorais, que são as grandes empresas.
Na legislação eleitoral vigente, não há limite em valores absolutos para a doação por parte de pessoas jurídicas, que podem doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior, fatia que será mais vultosa quanto maior for a companhia. Também não há restrição a que uma mesma empresa financie candidatos diferentes.
O fenômeno incomoda tanto a classe política quanto a sociedade civil organizada. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), por exemplo, não mede palavras. Para ele, o sistema está “putrefato”. “Tem que acabar já, de preferência ontem. Insistir nele é corroer todas as estruturas do estado democrático de direito”, diz. Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acredita que o financiamento privado de campanhas “tem sido o principal responsável por boa parte dos escândalos do país”.
Os problemas atuais
O juiz eleitoral Márlon Reis, fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), enxerga que uma “relação inadequada” se desenvolveu entre políticos e empresas devido ao modelo de financiamento privado. “As doações dão às empresas o direito de escolher a maior probabilidade de êxito. Os grandes doadores definem e quem não pode ou não quer doar fica em dificuldades depois, nos contatos políticos com o Estado. Não há finalidade cívica. É investimento”, explica.
O barateamento das campanhas e a redução do papel das empresas são apontados como prioridades em uma reforma política. O caminho indicado por diversos parlamentares e representantes de entidades é a adoção de alguma forma de financiamento público das campanhas.
Para Randolfe Rodrigues, a falência do modelo do financiamento privado está sendo demonstrada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga empresas suspeitas de pagarem propinas para garantir contratos com a Petrobras. “É a institucionalização da corrupção. Doa-se legalmente, mas depois ganha-se em licitação. Até o financiamento legal acaba sendo uma lavanderia”, resume o senador.
Randolfe também usa um exemplo concreto para ilustrar a influência das empresas doadoras de grandes somas. Ele relata que o grupo JBS, principal doador em 2014, com R$ 352 milhões distribuídos entre diversas candidaturas, protestou contra a indicação da senadora licenciada Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. “[A empresa] ficou insatisfeita com a nomeação e tentou vetar. Tenho minhas divergências com a senadora Kátia, mas o que a JBS está fazendo é uma chantagem ao governo, por ter interesses econômicos contraditórios”.
O juiz Márlon Reis entende que a confusão entre público e privado na prática governamental brasileira é, hoje, nada mais do que extensão das relações econômicas indiscriminadas entre candidatos e empresas durante o período eleitoral. “A campanha é a véspera do mandato. Se a campanha for uma relação íntima entre candidatos e empresas, ela perdurará depois, até como forma de recompensar essas empresas”, explica.
Movimentação da OAB
Até agora, o passo mais contundente para desmontar a influência das grandes empresas no financiamento de campanhas foi dado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A organização entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as doações eleitorais feitas por empresas.
O processo tem, por enquanto, seis votos favoráveis e um contrário — ou seja, já construiu maioria no STF, que é composto por 11 ministros. Um desses votos é do ministro Luís Roberto Barroso.
Para Barroso, o financiamento por empresas é “antirrepublicano e antidemocrático” por duas razões: não impede que o mesmo doador financie vários candidatos e não restringe a participação de empresas doadoras na gestão do governante eleito. “Isso não é exercício de liberdade de expressão, portanto considero que nesta hipótese ou há uma pressão — para não dizer um achaque — ou a pessoa está comprando um favor futuro. O candidato eleito termina pagando com dinheiro público o favor privado”, critica o ministro.
O presidente da OAB, Marcus Vinicius Coêlho, argumenta que a prática fere o princípio constitucional da igualdade. “O atual regime exacerba as desigualdades sociais ao permitir que os ricos tenham possibilidade muito maior de influir nos resultados das eleições. Alguém, por ter mais recursos ou por ser dono de uma empresa, não pode ter um fator de participação maior no momento mais importante da democracia”, discorre ele.
A movimentação no Supremo, provocada pela ação da OAB, pode levar o tribunal a se pronunciar sobre a questão antes do Congresso Nacional, já abrindo o caminho para o debate.
O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), crê que a expectativa do resultado favorável à ação pode quebrar a inércia do Legislativo em debater objetivamente o financiamento. “Ao decidir, os parlamentares terão em mente a decisão do STF. Acho que essa tendência de vetar a doação de empresas vai ajudar a convencer a classe política a favor do financiamento público”.
A votação no STF está parada desde abril, devido a um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. Humberto Costa já protestou no Plenário do Senado contra a demora e cobrou de Mendes a devolução do processo.
“O Poder Judiciário deve cumprir a sua parte com o aperfeiçoamento da democracia no Brasil. Senhor ministro, o Brasil espera que Vossa Excelência devolva ao debate essa ação, para que o STF possa tomar uma ação definitiva”, exortou o líder do PT, em outubro.
Dinheiro público
Entre quem debate o tema, não existe consenso a respeito de qual forma deveria tomar um modelo de financiamento público de campanha ou quais dimensões e profundidade ele alcançaria. Entre os questionamentos que se colocam na discussão, estão a proibição total ou parcial da participação de empresas, a questão das doações por pessoas físicas e a forma de distribuição do dinheiro público destinado a financiar campanhas.
O ex-senador Francisco Dornelles, hoje vice-governador do Rio de Janeiro, presidiu, em 2011, a Comissão Especial de Reforma Política do Senado, que elaborou diversos projetos de reestruturação política e eleitoral — nenhum dos quais foi aprovado em definitivo até hoje. Ele é favorável a mudanças, mas não muito profundas. “É muito difícil fazer um financiamento exclusivamente público. O sistema que existe hoje deve ser aperfeiçoado, estabelecidos alguns limites”, defende.
Apesar de apoiar a redução da participação do setor privado no financiamento de campanhas, Dornelles mostra-se reticente quanto a um modelo de financiamento completamente público, bancado pelos cofres do Estado. Ele também tem dúvidas quanto ao manuseio dos recursos. “Hoje você pode dar dinheiro a quem pensa como você. No financiamento público, seu dinheiro vai para partidos que você não gostaria de ajudar. E como uma cúpula partidária distribuiria esses fundos? Mandariam para os amigos do partido, os estados em que eles querem prevalecer”, questiona.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) confia na viabilidade de um modelo de financiamento público, contanto que ele venha acompanhado de uma mudança no sistema eleitoral proporcional que institua o voto em lista fechada para as eleições proporcionais (de deputados e vereadores). Essa medida, para ele, permitiria uma distribuição organizada do dinheiro e facilitaria a fiscalização dos gastos pelos tribunais eleitorais.
“No momento que você tem uma lista preordenada, nenhum candidato vai fazer campanha individual, e sim partidária. Com a lista, cabe aos tribunais fiscalizar apenas 32 partidos. Hoje, sem a lista, é necessário fiscalizar 500 mil candidaturas no Brasil. É inviável”, diz Caiado.
O senador acredita, ainda, ser uma temeridade entregar o dinheiro diretamente aos candidatos e entende que o financiamento público, se aplicado, deveria abastecer os caixas dos partidos, que então distribuiriam as verbas entre os candidatos segundo critérios próprios — daí a necessidade, para ele, do sistema de candidaturas em lista fechada.
A necessidade de conjugar o financiamento público à adoção da lista fechada também é lembrada pelo professor David Fleischer. Ele ainda coloca como alternativa a proposta do movimento Coalizão Democrática, capitaneada pela OAB e outras 43 entidades, que propõe eleição proporcional em dois turnos, sendo o primeiro reservado à votação na legenda para definir os quocientes partidários e o segundo dedicado à votação nominal em candidatos, estabelecendo os eleitos. Ambos os casos são vistos por Fleischer como formas de reduzir os custos as campanhas.
“O financiamento público só vai ser viável se a quantidade de candidatos for reduzida drasticamente, e a lista fechada pode ajudar. A proposta de eleições proporcionais em dois turnos reduz o número de candidatos no segundo, e a campanha entre os turnos tem duração pequena, o que reduz as despesas eleitorais”.
Já para definir em que proporção o dinheiro chegaria aos partidos, o senador Ronaldo Caiado sugere um cálculo que combine a representação parlamentar das legendas e o peso das bancadas estaduais. Partidos com mais membros na Câmara receberiam mais verbas nas eleições seguintes, de forma a refletir a preferência do eleitorado. Esse critério seria ponderado pelos desempenhos eleitorais dos partidos nos diferentes estados, de forma a melhor contemplar as siglas que fossem mais bem votadas nos estados mais populosos.
A forma de distribuição do dinheiro é objeto de um projeto de lei já existente no Senado, fruto dos trabalhos da Comissão Especial de Reforma Política. O Projeto de Lei do Senado 268/2011 aplica as regras de distribuição de verbas do Fundo Partidário às verbas públicas que seriam destinadas ao financiamento eleitoral. Ao mesmo tempo, ele cria barreiras à participação de pessoas físicas e jurídicas no caixa dos partidos.
A justificativa do texto elaborado pela comissão especial ressalta que os dispositivos permitem uma melhor fiscalização da prestação de contas dos partidos, já que determina a separação do caixa de campanha dos demais recursos e define a quantia exata de dinheiro lá disponível. O projeto foi aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), mas foi alvo de um recurso para ir a votação no Plenário, onde ainda não foi incluído na ordem no dia.
Modelo diferente de financiamento de campanhas com dinheiro público é sugerido pelo senador Reguffe (PDT-DF). Ele não considera uma boa ideia distribuir os recursos diretamente para partidos ou candidatos, pois vê brecha para mau uso do dinheiro ou proliferação de legendas de aluguel. “Vai ter gente querendo ser candidato só para ganhar dinheiro”, alerta.
A ideia de Reguffe é a realização de licitações para cada um dos serviços da campanha eleitoral, como impressão de panfletos e gravação de programas de rádio e televisão. A empresa que vencesse a concorrência prestaria o mesmo serviço a todos os candidatos, igualando a disputa em termos de produtos.
“A campanha seria chata, mas a pessoa teria que ganhar no convencimento, no conteúdo, nas propostas. Isso daria uma menor desigualdade e uma igualdade de condições entre todos os que fossem candidatos. Aí seria democracia pra valer”, explica o senador Reguffe, que já chegou a apresentar a mesma proposta quando era deputado federal, mas promete defendê-la no Senado.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A face e os números do novo Parlamento

Homem, branco, na faixa dos 50 anos, com formação superior e patrimônio declarado acima de R$ 1 milhão. Veja o perfil dos novos deputados e senadores e saiba, entre outras coisas, quem são os mais ricos, os mais jovens e os mais experientes
Homem, branco, na faixa dos 50 anos, com formação superior, empresário e dono de patrimônio superior a R$ 1 milhão. Essas são algumas das características predominantes entre os novos parlamentares. Um perfil que não reflete a maioria da sociedade, mas que repete a histórica distorção das representações no Parlamento brasileiro. Problema esse agravado, sobretudo, pelos elevados custos de campanha. Em geral, elege-se quem arrecada e gasta mais.
Veja o perfil do novo Congresso:
O velho e o novo
Divulgação
Uldurico, o mais jovem do novo Parlamento
Bonifácio, o mais idoso entre todos
Aos 22 anos, o estudante Uldurico Júnior (PTC-BA), filho do ex-deputado Uldurico Pinto, é o mais jovem entre os novos parlamentares. No primeiro mandato eletivo, dividirá o plenário com o mineiro Bonifácio de Andrada (PSDB), de 84 anos, reeleito para a décima legislatura. Descendente de José Bonifácio, o Patriarca da Independência, o veterano mantém a tradição da família de ter um representante no Congresso ininterruptamente desde 1894.
Os deputados eleitos, por faixa etária
De cada dez parlamentares, quase sete têm mais de 45 anos de idade
De 22 a 25 anos – 8 (1,5%)
De 26 a 45 – 159 (31%)
De 46 a 65 – 302 (58,9%)
Acima de 65 – 44 (8,6%)
Os senadores eleitos, por faixa etária
Mais da metade dos recém-eleitos têm entre 46 e 65 anos
De 35 a 45 anos – 4 (14,8%)
De 46 a 65 – 15 (55,6%)
Acima de 65 – 8 (29,6%)
O mais e o menos votado

PSDB
Serra recebeu 11,1 milhões de votos
Carlos Andrade, na Câmara com 6 mil6.733 votos
De volta ao Senado após 12 anos, o ex-governador José Serra (PSDB-SP) alcançou a maior votação entre todos os congressistas eleitos. Foram mais de 11,1 milhões de votos no maior colégio eleitoral do país. Carlos Andrade (PHS-RR) é o deputado eleito com a menor votação do Brasil. Recebeu apenas 6.733 votos no estado com menor eleitorado do Brasil.Roraima tinha neste ano menos de 300 mil eleitores aptos para votar.

Negros sub-representados
Apesar de serem mais da metade da população, pretos e pardos elegeram apenas 20% dos parlamentares. Entre os novatos, está o baiano Bebeto Galvão (PSB), apoiado por lideranças do movimento negro. Ele também é sindicalista, bancada reduzida de 83 para 46 integrantes na próxima legislatura, conforme levantamento do Diap. Só 3% de todos os eleitos no Brasil em 2014 se declararam negros, como revelou a Revista Congresso em Foco.
Divulgação
Bebeto Galvão, do movimento negro baiano
Uma Câmara de brancos
Mesmo representando mais da metade da população brasileira, negros e pretos são apenas 20% dos deputados eleitos
410 brancos (79,9%)
81 pardos (15,8%)
22 pretos (4,3%)

Mulheres continuam sendo exceção
A apresentadora de TV Brunny (PTC-MG), de 25 anos, é a mais jovem entre as 51 mulheres eleitas para a Câmara. Casada com um deputado estadual,ela engrossa a bancada dos parentes de políticos eleitos no Congresso.A representação feminina cresceu ligeiramente em relação à eleição de 2010, mas as mulheres continuarão ocupando menos de um décimo dos cargos legislativos federais.
Divulgação
Brunny, a mais jovem entre as 51 eleitas na Câmara
Os reis da grana


Dos 513 deputados eleitos, 248 declararam à Justiça eleitoral possuir patrimônio superior a R$ 1 milhão. Na Câmara, o mais rico é o reeleito Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que declarou possuir bens no valor de R$ 108 milhões. A maior fortuna do novo Congresso é de Tasso Jereissati (PSDB-CE), que volta ao Senado. O empresário informou ter R$ 389 milhões, o que representa mais de 80% do declarado por todos os 27 eleitos. Por outro lado, 11 disseram não possuir nenhum bem em seu nome, como a empresária Jozi Rocha (PTB-AP).

Divulgação
Kaefer, patrimônio declarado de R$ 108 milhões
A bancada dos mais ricos
Dez partidos concentram 206 dos 248 deputados com patrimônio declarado à Justiça eleitoral superior a R$ 1 milhão

PMDB – 39
PSDB – 32
PSD – 24
PP – 23
PR – 18
PTB – 16
DEM – 15
PSB – 15
PT – 13
PDT – 11
Fonte: G1

 
Antônio Cruz/ABr
Jereissati, fortuna estimada em R$ 389 milhões
Os mais ricos no Senado


Mais de 80% dos R$ 479,6 milhões declarados pelos 27 eleitos pertencem ao ex-senador Tasso Jereissati, que volta à Casa. Veja quais são os cinco mais ricos dentre eles
Tasso Jereissati (PSDB-CE) – R$ 389 milhões
Fernando Collor (PTB-AL) – R$ 20,3 milhões
Acir Gurgacz (PDT-RO) – R$ 10,9 milhões
José Maranhão (PMDB-PB) – R$ 8,8 milhões
Wellington Fagundes (PR-MT) – R$ 8,6 milhões
Tiririca e os letrados
Tiririca, o de menor escolaridade
Mais de 80% dos parlamentares eleitos concluíram a faculdade, média muito superior à nacional. Segundo o TSE, menos de 4% dos eleitores têm curso superior completo. No Congresso de letrados, há pouco espaço para quem estudou pouco: somente quatro não terminaram o ensino fundamental. Só Tiririca (PR-SP) informou saber apenas ler e escrever. Único parlamentar da última legislatura a ter pós-doutorado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não conseguiu se reeleger. Primeiro senador da história do PT, ele deixa a Casa que ocupou nos últimos 24 anos.
A escolaridade dos deputados
De cada dez parlamentares eleitos, oito têm curso superior completo. Dos 513, somente Tiririca declarou saber apenas ler e escrever
Ensino superior completo – 411 (80,1%)
Ensino médio completo – 45 (8,8%)
Superior incompleto – 38 (7,4%)
Fundamental completo – 10 (1,9%)
Fundamental incompleto – 4 (0,8%)
Ensino médio incompleto – 4 (0,8%)
Só lê e escreve – 1 (0,2%)
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
A escolaridade dos senadores
Entre os 27 eleitos, todos chegaram à faculdade e apenas cinco não concluíram o curso
Superior completo – 22 (81,5%)
Superior incompleto – 5 (18,5%)

Mídia Ninja
Jean segue como único parlamentar declaradamente homossexual
O confronto continua

Ag. Câmara
Após polêmica na CDH, Feliciano foi o terceiro mais votado em SP
Com votação dez vezes superior à obtida em 2010, Jean Wyllys (Psol-RJ) foi reeleito na condição de único parlamentar assumidamente homossexual. Segundo estimativa da ABGLT, 126 deputados eleitos têm afinidade com a causa dos gays. Outros 60 são reconhecidos como adversários. Entre os principais opositores, estão congressistas ligados a igrejas, policiais e militares. Com pelo menos 82 nomes na Câmara, os evangélicos seguem a tendência de crescimento. Em 2010, elegeram 78 deputados. O polêmico Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi o terceiro mais votado em seu estado. O ainda mais controverso Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva, renovou o mandato como o campeão de votos no Rio de Janeiro.

A origem dos parlamentares
Levantamento preliminar indica perfil dos deputados eleitos e a força de algumas das principais bancadas

Empresários – 190
Ruralistas – 139
Evangélicos – 82
Sindicalistas – 46
Policiais – 20
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Como se definem os senadores eleitos
Maior parte dos recém-eleitos declarou apenas ser político à Justiça eleitoral
Políticos – 10
Advogados – 2
Economistas – 2
Médicos – 2
Administradores – 2
Empresários – 2
Servidor público – 1
Outros – 6
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
Rumo ao recorde

Miro se aproxima de recorde de mandatos na Câmara
Entre os reeleitos, apenas Miro Teixeira (Pros-RJ) supera Bonifácio de Andrada em número de mandatos. Na Casa desde 1971, o parlamentar fluminense participará de sua 11ª legislatura. Ficará a uma do recorde do ex-deputado Manoel Cavalcanti (BA), que cumpriu 12 mandatos. Ao todo, 198 parlamentares estrearão na Câmara em 2015.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Democracia e anarquismo

Robert A. Dahl
Universidade de Yale
DEMOCRATA: Ouvi dizer que te dizes um verdadeiro defensor das ideias democráticas. Todavia, criticas democratas que, como eu, afirmam que a democracia deve ser a forma de governar o estado.
ANARQUISTA: Pois claro. Não podes transformar um mau estado num bom estado só por torná-lo democrático, do mesmo modo que não podes transformar um peixe podre num peixe fresco temperando-o com um molho especial.
DEMOCRATA: Caro amigo, deixa-me dizer-te que a tua metáfora cheira mal. Pareces pensar que um estado é inerentemente mau; contudo, não poderíamos viver uma vida decente sem um estado.
ANARQUISTA: Acho que quando ouvires o meu argumento, poderás aprovar a minha metáfora. Julgo que aprovas as minhas premissas e, se assim for, não vejo como podes discordar da minha conclusão.
DEMOCRATA: Vamos ver.
ANARQUISTA: A minha primeira premissa é que ninguém é obrigado a apoiar ou a obedecer a um mau estado.
O que torna esta afirmação poderosa é que ela não é apenas defendida pelos anarquistas, mas faz parte do conjunto de crenças do mundo ocidental de hoje. Como certamente concordarás, apesar de a defesa desta afirmação ter uma longa e complexa história no pensamento ocidental, ela ganhou nos tempos modernos uma aceitação geral.
DEMOCRATA: Eu não discordo disso.
ANARQUISTA: Exactamente! A força do nosso argumento é que assenta em premissas que a maioria de nós aceita. Neste século, o terror, a brutalidade e a opressão sistemáticos dos regimes totalitários converteram o que poderia ter sido uma proposta defensável numa afirmação quase incontestada. Democratas, liberais, conservadores, radicais, revolucionários, cristãos, judeus, muçulmanos, ateus e agnósticos, todos concordam connosco quando dizemos que nenhuma pessoa tem a obrigação de apoiar ou obedecer a um estado opressivo.
DEMOCRATA: Mas a questão é que um estado democrático não é um estado opressivo.
ANARQUISTA: Não tires conclusões sem antes escutares o que tenho ainda para dizer. A minha segunda premissa é que todos os estados são opressivos.
Aqui também nós, anarquistas, adoptamos uma crença largamente partilhada. Hoje em dia a opressão é geralmente entendida como uma característica essencial da própria definição de estado. Entre as características específicas que distinguem um estado de outras associações está a sua capacidade de impor sanções severas e até violentas sobre as pessoas que violam as suas regras ou leis.
DEMOCRATA: Eu dificilmente contestaria uma ideia tão elementar. Como qualquer estado, um estado democrático usará a opressão para fazer cumprir as leis democraticamente estabelecidas, se isso se revelar necessário.
ANARQUISTA: Estou contente por, até agora, estarmos de acordo. Estou certo que também concordarás com a minha próxima premissa que é a seguinte: a coerção é intrinsecamente má.
Mais uma vez, nós anarquistas, defendemos uma afirmação que poucas pessoas poderão contestar. A coerção significa forçar alguém a obedecer a algo, ameaçando física ou emocionalmente aqueles que se recusam obedecer. Na medida em que a coerção é bem sucedida as pessoas são obrigadas a obedecer às leis a que se opõem. Se a ameaça não resulta e a pessoa que desobedece é punida, o resultado é em geral o sofrimento físico na forma de prisão ou pior. Defender que consequências como estas são boas em si, ou mesmo neutras, seria perverso. Se pudéssemos atingir os nossos fins sem o uso da coerção e da punição, certamente que todos nós dispensaríamos esses meios.
DEMOCRATA: Não vou discutir a tua terceira premissa. Pelo contrário, nós democratas argumentamos que uma razão pela qual um estado deve ser democrata é precisamente porque um estado não é simplesmente uma associação voluntária. É porque possui a capacidade de coagir que um estado é potencialmente perigoso. Para garantir que o enorme poder de coagir de um estado seja usado para o bem público e não para o mal, é muito mais importante que o estado seja democrático do que qualquer outra associação privada o seja.
ANARQUISTA: Enquanto as minhas primeiras três afirmações podem ser facilmente aceites, a quarta já não o é: uma sociedade sem um estado é uma alternativa viável a uma sociedade com um estado.
DEMOCRATA: Todavia, essa afirmação é absolutamente essencial para os anarquistas. Sem ela o anarquismo seria apenas a apresentação de um problema filosófico para o qual não teria nenhuma solução.
ANARQUISTA: Claro. É a partir dela que vou defender a visão anarquista da sociedade na qual indivíduos autónomos em conjunto com associações voluntárias conseguem executam todas as actividades necessárias à realização de uma vida boa. Nós somos contra todas as formas de hierarquia e de coerção, não apenas no estado mas em qualquer tipo de associação.
DEMOCRATA: Apresenta então o resto do teu argumento.
ANARQUISTA: Vou apresentar o meu argumento de uma forma esquemática.
  1. Todos os estados são necessariamente coercivos e, por isso, são necessariamente maus;
  2. Todos os estados são necessariamente maus e, por isso, ninguém tem obrigação de obedecer ou apoiar um qualquer estado;
  3. Porque todos os estados são necessariamente maus, porque ninguém tem obrigação de obedecer ou apoiar qualquer estado, e porque uma sociedade sem um estado é uma sociedade viável, todos os estados deveriam ser abolidos.
Segue-se daqui que mesmo um processo democrático não pode ser justificado se apenas apresenta procedimentos, como a regra da maioria, para fazer aquilo que é inerentemente mau fazer, isto é: permitir que algumas pessoas coajam as outras. Um estado democrático continua a ser um estado, continua a ser coercivo e continua a ser mau.
Robert A. Dahl
Traduzido e adaptado por Luís Filipe Bettencourt

Nicolau Maquiavel

nicolau maquiavel
Nicolau Maquiavel foi um Italiano famoso da época do Renascimento. Filho de pais pobres, Maquiavel desde cedo se interessou pelos estudos. Tornou-se um importante historiador, diplomata, poeta, músico, filósofo e político italiano. Viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Sua educação, porém, foi fraca quando comparada com a de outros humanistas, devido aos poucos recursos de sua família.

Nascimento de Nicolau Maquiavel

Cidade de Florença (Itália) em 3 de maio de 1469. Foi o terceiro de quatro filhos.

Morte de Nicolau Maquiavel

Nicolau morreu aos 58 anos de idade na mesma cidade em que nasceu, em 21 de junho de 1527.

Principal obra de Nicolau Maquiavel: O Príncipe

A obra mais importante e famosa de Nicolau Maquiavel foi escrita em 1513. Em O Príncipe, Maquiavel aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto, mesmo que seja necessário utilizar forças militares para alcançar tal objetivo. Esse livro que sugere a famosa expressão: “os fins justificam os meios”, que transmite a ideia de que não importa o que o governante faça em seus domínios, tudo é válido para manter-se como autoridade. Ou seja, os governantes precisam estar acima da ética e moral dominante para realizar seus planos. No entanto, essa expressão não se encontra no texto, foi apenas uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico. Esta obra tentava resgatar o sentimento patriota do povo italiano, e foi escrita no contexto que tinha como ideal a unificação italiana. Fica evidente, nesse ponto, a originalidade do pensamento político de Maquiavel.

Maquiavélico

O termo Maquiavélico acabou surgindo para fazer referência aos atos imorais, desleais ou violentos que as pessoas utilizam para obter vantagem. No entanto, o próprio Maquiavel defendia a ética na política, o que faz o sentido pejorativo desse termo ser, de certa forma, uma definição injusta dos ideais de Nicolau. Sua maneira de impor as ideias era diferente do estilo dos cientistas naturais da época.

Família Maquiavel

A família de Nicolau Maquiavel era de origem Toscana e participou dos cargos públicos por mais de três séculos. Seus pais chamavam-se Bernardo Maquiavel e Bartolomea Nelli. Bernardo era jurista e tesoureiro de uma província italiana chamada Marca de Ancona. A mãe era próxima da nobre família de Florença. Nicolau casou-se com Marietta di Luigi Corsim e teve seis filhos.