segunda-feira, 3 de março de 2014

Elísio Maia e o voto secreto

Político matreiro, polêmico e líder. Estes são alguns dos atributos do cidadão da Terra de Jaciobá Elísio da Silva Maia. Prefeito por muitas vezes de Pão de Açúcar, deputado estadual outras tantas e líder na região do Baixo São Francisco, enquanto vivo, combatido por uns e elogiados por outros, porém um líder político incontestável.
Tive a oportunidade de conhecê-lo em sua propriedade, Torrões. De outra feita estive em seu gabinete, por mais de uma hora, e vi a enorme quantidade de pessoas que adentraram àquele recinto para solicitar alguma coisa ou mesmo conselhos. Não vi, uma única vez, ele dar um "não". Pelo contrário, às vezes até exagerou.
Foi o caso em que ele deu duas autorizações para uma ambulância levar dois doentes, no mesmo horário, para destinos diferentes, deixando o motorista confuso, vindo a perguntar como faria.
- Meu filho, dê um jeito! Dê um jeito, meu filho! Fale com Armando e arranje outro transporte! É caso de doença e não posso deixar o meu povo sofrer!
Por casos assim é que surgiram muitas estórias ao seu respeito. Contam que, certa vez, a filha de um dos seus amigos foi nomeada professora sem ser formada nessa área. Exerceu durante muito tempo essa função até que, numa fiscalização, foi constatada a falta do diploma da professora e o gestor do município foi aconselhado a demiti-la. Matutou um pouco. Não poderia ferir o seu correligionário. Olhou para os algozes que o aconselharam a fazer tamanho ato e disse:
- Está certo! Vou atender ao pedido de vocês! Mas, antes, batam uma Portaria aposentando a coitada da moça! - Virou as costas e foi embora, na maior tranqüilidade, diante da solução dada ao problema.
Em outra ocasião, um amigo seu prestou um concurso para juiz de Direito aqui, em Alagoas. Tempos depois foi publicado, no Diário Oficial, o resultado. Passaram nove candidatos, e o seu amigo fora classificado em décimo lugar. Claro que, diante dos fatos, não seria nomeado. Não seria, mas foi. Vejamos o motivo e o argumento para a nomeação: o prefeito fez uma visita às autoridades competentes daquela área e foi direto ao assunto com o chefe. Argumentou que o candidato era seu amigo, que precisava desse emprego, que era um rapaz inteligente... e por aí foi enumerando atributos e necessidades do seu afilhado.
O funcionário abriu a gaveta do seu birô, pegou um papel que continha a relação dos aprovados e mostrou ao solicitante. Este olhou, leu, passou a mão no queixo, simplesmente virou a folha do papel de cabeça para baixo e disse:
- Agora este "10", virado, fica como? Resposta: 01. Pois é, agora ele está aprovado em primeiro lugar! Não lhe disse que o meu amigo é competente?
A partir do segundo colocado, a seqüência ficou em ordem decrescente! O afilhado já é juiz aposentado.
Tem outra estória interessante que ocorreu durante uma das inúmeras eleições de que ele participou e foi eleito. Nessa ocasião ficou em pé numa seção eleitoral, e todo eleitor que chegava era abordado por ele com o seguinte argumento: fazia questão de votar no lugar daquele eleitor para que o seu correligionário não tivesse todo esse trabalho. Pegava o título – depois de tudo assinado – e se dirigia à cabine para sufragar o candidato "escolhido" pelo eleitor. Fazia isso e devolvia o documento com o devido agradecimento.
E assim transcorreu durante todo o dia da eleição no mister de não deixar os seus conterrâneos se cansarem, até que chegou um beIradeiro, forte, que logo foi abordado com o mesmo refrão, mas o conterrâneo do prefeito estranhou e não quis aceitar. Depois de um bom tempo e de "argumentos convincentes", o cidadão concordou, entregou o título e o candidato foi fazer o favor ao eleitor. Porém, quando entregou de volta o documento ao seu legítimo dono, o mesmo perguntou:
- "Seu" Elísio, o Senhor poderia me dizer em quem eu votei?
O ilustre alcaide olhou para ele com espanto e colocou um dedo em seus lábios – naquele sinal que quer dizer "Psiu" –, acompanhado de uma frase verdadeira:
- Meu filho, o voto é secreto! Não é para ninguém saber!
Encerrou o papo, agradeceu a confiança e partiu para outras seções com a finalidade de garantir que os seus conterrâneos não tivessem trabalho, bem como pregar o uso do voto sigiloso!

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