, Marco
Antônio Cabral, a deputado, ganhou mais força na última semana, após o
presidente do PMDB, Jorge Picciani, confirmar a versão especulada na imprensa. Apesar
de Cabral não assumir publicamente, a hipótese parece cada vez mais provável,
ainda mais se considerando a queda vertiginosa da popularidade do atual
governador. O apadrinhamento político, principalmente em casos de parentes, é
uma das portas de entrada mais comuns nos bastidores políticos do Brasil. Assim,
a renúncia de Cabral se explica pela “Lei da Inelegibilidade”, que impede a candidatura
de cônjuges e parentes de presidente da república, governador de estado e prefeito,
Confirmada a continuidade política na linha hereditária, a
família Cabral passa a se configurar como mais uma das muitas famílias que possuem
presença marcante na política brasileira. Esta prática é tradicional na
história do Brasil, recorrente desde os tempos das Capitanias Hereditárias. Marco
Antônio, que, ainda possui em seu sobrenome o Neves de Tancredo, primeiro
presidente eleito pós-ditadura, mas que faleceu antes de tomar posse, poderá
representar a terceira geração de políticos dos Cabral. O avô, Sérgio Cabral Santos, foi vereador do
Rio de Janeiro entre 1983 e 1993, época em que o filho começou a ascender no
cenário. Após participar da juventude do PMDB, Sérgio Cabral Filho assumiu a
diretoria de Operações da Turisrio, no governo de Moreira Franco, e elegeu-se
deputado estadual em 1990. Reeleito em 1994 e 1998, ele ainda foi senador até
concorrer ao governo do Rio de Janeiro em 2006.
Ironicamente, o crescimento do atual governador entre cargos
públicos do estado contou com a contribuição de outra família política do Rio
de Janeiro, que, agora, é desafeta e opositora da base de governo do PMDB. Em
2006, quando foi eleito para o primeiro mandato do atual cargo que ocupa, Sérgio
Cabral teve o apoio, no segundo turno, de Anthony e Rosinha Garotinho, os dois
governadores antecessores. A família
Garotinho, que possui um curral eleitoral fortíssimo em Campos, cidade do
interior do estado, conta com mais um sucessor na carreira política, a filha do
casal e deputada estadual Clarissa Garotinho.
Tradição desde as
Capitanias Hereditárias
A história da dominação de famílias políticas em cargos
públicos, entre executivo, legislativo e judiciário, está na raiz da construção
do Brasil, desde a época colonial. Durante
as Capitanias Hereditárias, sistema de administração territorial criado por D.
João III, certos governantes tiveram seus sobrenomes prosseguindo na política
brasileira por muitos anos. É o caso dos Albuquerque Maranhão, que teve em
Afonso o primeiro da família a assumir um posto, quando foi presidente das
províncias de Pernambuco e Paraíba até 1836, sucedendo-se por outros dez parentes,
até Ney de Albuquerque Maranhão, o último da linhagem, que terminou seu último
mandado, como senador, em 1995.
A distribuição de províncias a poucos grupos, durante as
Capitanias Hereditárias, era prática muito comum. Somente a família Alencar,
por exemplo, esteve à frente de três províncias, com Tristão Gonçalves no Ceará,
sendo sucedido por José Martiniano e Tristão Araripe no Rio Grande do Sul e
Pará. O domínio se estendeu até o período da ditadura militar, quando Humberto
de Alencar Castello Branco assumiu a presidência do Brasil, após o golpe de
estado em 1964.
A família que, durante a história do Brasil, se perpetuou no
poder por mais tempo, passando por seis gerações, foi a Andrada. A partir de
José Bonifácio, patriarca da independência, outros 22 Andradas figuraram no
cenário político do país, com nomes atuantes até hoje. Como José Bonifácio Tamm,
deputado federal de Minas Gerais, que mantém um mandato parlamentar há 56 anos
ininterruptos, tornando-se em um dos parlamentares mais experimentados do mundo.
Nordeste e Rio, currais eleitorais
Tradicionalmente o Nordeste, talvez por uma cultura
coronelista, constitui-se como um polo de dominação patriarcal político. José
Sarney e Antônio Magalhães são duas figuras que simbolizam esta prática, com
seus sobrenomes presentes em cargos públicos até hoje. Sarney, que presidiu o Senado
Federal até 2012, mantém um amplo curral eleitoral no Maranhão, eclodindo
inclusive em casos de nepotismo, com a contratação de parentes para cargos de
gabinete. Atualmente, seus filhos, José Sarney Filho e Roseana Sarney, ocupam a
pasta do Ministério do Meio Ambiente e o governo do estado do Maranhão, respectivamente.
Já Antônio Carlos Magalhães, falecido em 2007, foi senador,
ministro das Telecomunicações e Governador da Bahia. Seus dois filhos e mais um
neto prosseguiram na política. Luís Eduardo Magalhães foi deputado federal e
estadual pela Bahia, mas faleceu 1998. Atualmente, ACM Júnior é senador pela
Bahia e ACM Neto é prefeito de Salvador. Outras três famílias também possuem
muita força, hoje em dia, no Nordeste. O alagoano Renan Calheiros é o
presidente do Senado Federal. Seu irmão, Olavo, foi deputado federal de Alagoas
até 2011. Já Renildo, é prefeito de Olinda, em Pernambuco.
Da
família Arraes, vieram dois governadores de Pernambuco, Miguel Arraes,
até 1999, e Eduardo Campos, o atual mandatário. Já a famíla Alves é uma
das mais influentes do Rio Grande do Norte. Agnelo Alves foi senador e
prefeito por dois mandatos do município de Parnamirim ,até 2008. Seu
filho, Carlos Eduardo, é o atual prefeito de Natal e seu sobrinho,
Henrique Alves, é deputado federal e presidente da Câmara.
No Rio de Janeiro, muitas famílias políticas se perpetuam no
poder até hoje. Além dos Cabral e Garotinho, os Bolssonaro, Picciani, Maia, Alencar
e Brizola representam uma força eleitoral carioca. Jair Bolssonaro é uma das
figuras mais polêmicas entre os políticos brasileiros. Deputado federal, ele
ficou famoso por defender interesses militares e conservadores. Seus filhos,
Flávio e Carlos, são, respectivamente, deputado estadual e vereador.
Jorge Picciani, ex deputado estadual e atual
presidente do PMDB, abriu espaço para que seus filhos, Leonardo e Rafael,
seguissem na política. Enquanto o primeiro está no seu terceiro mandato como
deputado federal, o segundo ocupa o cargo de secretário de Estado de Habitação.
Do lado da oposição, o deputado federal Rodrigo Maia segue os passos do pai, o
ex prefeito e atual vereador Cesar Maia. Outro sucessor atuando na oposição é o
deputado federal Brizola Neto, quem mantém a linhagem de seu avô, Leonel
Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro.
*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil
O rumor de que o governador Sérgio Cabral renunciará ao
cargo no início de 2014, abrindo espaços para a candidatura de seu filho
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